Há muitos, muitos anos – não se sabe bem quantos mas há quem pense que seja desde Rómulo, lendário fundador de Roma, há quase dois mil e oitocentos anos – abril era o segundo mês do ano e há quem pense que a sua designação significaria a “época em que a terra se abria” à natureza para iniciar mais um ciclo de intensa produção agrícola. Desde então, e apesar de ajustes mais ou menos profundos introduzidos no calendário, em cada ano abril acumula mais um aniversário desta sua ininterrupta caminhada ao longo do tempo, repetindo, um após outro, ciclos intimamente ligados à renovação da natureza.

Naturalmente, em todos os anos, no mês de abril, aconteceriam factos que marcariam para sempre o percurso da história e o destino da humanidade. No domínio do conhecimento científico – aquele em que assentam os maiores avanços alcançados pela humanidade, nos mais variados domínios – abril de 1633 é palco da detenção de Galileu e consequente envio a Roma, para julgamento, pelo facto de não se conter em ensinar que a natureza é composta por fenómenos simples e facilmente entendíveis, se observados e analisados com método, e que a interpretação de “movimentos estranhos” observados em alguns astros se tornava extraordinariamente simples se se abandonasse o dogma de a Terra ocupar o centro do mundo. Embora temporariamente ofuscada a verdade, ela não demoraria muito a emergir das trevas para mostrar que a simplicidade do mundo só pode ser vista por quem sentir a humildade de não querer ocupar o seu próprio centro. Pouco mais de trezentos anos passados, tinham-se dissipado as dúvidas sobre a forma e origem da Terra e o seu lugar no Universo e a humanidade, em geral, havia adquirido a consciência de que se havia desenvolvido sobre um minúsculo grão de poeira, e que, apesar da pequenez física, ela alberga as únicas capacidades possíveis (conhecidas) de se conhecer e preservar e, simultaneamente, desvendar os “mistérios” que reinam noutros mundos mais ou menos distantes. A 12 de abril de 1961, o primeiro ser humano vê a Terra “de fora”, circundando-a em apenas cento e oito minutos! Seguiram-se anos de pesquisas sobre caraterísticas da atmosfera terrestre e as suas interacções com a radiação solar, com o intuito de saber detalhes sobre a nossa dependência de uma estrela tão simples, tão próxima e… tão indispensável.

Em abril de 1972, pela quinta vez, dois humanos passearam-se sobre a Lua - agora durante mais de vinte horas - realizaram experiências, recolheram materiais e… contemplaram a Terra! Regressaram ao planeta onde muitas outras coisas importantes continuaram a acontecer no mês de abril, no mundo e nos países, uns emergindo para a liberdade, outros continuando afogados nos pântanos da fome, da miséria e da opressão.

Continuamos a celebrar abril, de braço dado com a busca de conhecimento, olhando para a Terra e o para o espaço exterior, na convicção de que não estaremos sós no Universo e que, em algum abril do próximo século (ou do seguinte) havermos de encontrar outros seres, certamente ávidos de uma felicidade permanente – como a maioria de nós - com os quais continuar a desbravar o Universo e a transformar cada “mistério” em “interpretação fácil”, como advogava Galileu.

Até lá, continuemos a celebrar aniversários de abril, aos quais nos encontramos afectivamente ligados. Celebremos o nosso jornal… abarca.