Foi com enorme satisfação que no último regresso à cidade de Abrantes tive conhecimento da vontade, que tomei como certeza, da autarquia abrantina retomar este ano a organização do Torneio Internacional de Iniciados. Competição que, durante alguns anos, marcou o calendário de pré-época em termos nacionais para os principais emblemas do nosso país, granjeando mesmo o epíteto do torneio de referência no escalão a que se destinava. Fosse por motivos de ordem financeira, por uma questão de estratégia ou eventualmente a assunção de outras prioridades em termos de política desportiva, entendeu a Câmara Municipal de Abrantes interromper a promoção do referido torneio. Uma decisão que nunca discuti mas que não deixou de causar, na altura, alguma tristeza, sobretudo pela importância e espaço mediático que o Torneio Internacional de Iniciados já tinha conquistado no contexto do futebol nacional. Mas também, pese embora ainda existam alguns abrantinos que nunca reconheceram as mais-valias que tal evento trazia para a cidade, não só em termos hoteleiros como também ao nível da restauração, mas fundamentalmente na promoção daquela que já foi a “Cidade Florida”. Pois, várias eram as centenas de pessoas que os clubes participantes, nacionais e estrangeiros, arrastavam consigo até a Abrantes. Aquilo que em 2002 começou por ser um torneio de índole quase local ou regional, ano após ano foi ultrapassando as fronteiras do distrito e depois do próprio país, catapultando-se para um patamar que outros nunca atingiram. Muitas foram as figuras de proa do futebol nacional que associaram o seu nome e presença ao torneio, potenciando o seu prestígio, cujo planeamento e organização eram factores por todos elogiados. Exemplo disso mesmo era o facto de serem as principais equipas nacionais a manifestarem, antecipadamente, a sua vontade de participar na edição seguinte. Nomes como os ex-internacionais do futebol português, Shéu, Paulo Sousa, Paulo Futre, Oceano ou Abel Silva ou do malogrado Paulo Paraty, sempre disponível para colaborar no que à arbitragem dizia respeito, personificam de forma inapagável o estatuto que o torneio chegou a conquistar. Por outro lado e não menos importante, eram as equipas que nas várias edições foram marcando presença. Benfica, Sporting, Porto, Boavista, Belenenses, Atlético de Madrid, Valladalid, Celta de Vigo, entre outras, a que se juntava a sempre “obrigatória” selecção concelhia, reunindo jogadores dos vários clubes locais, eram sinónimo de qualidade garantida. A título de exemplo, João Mário, actual campeão europeu pela equipa nacional e jogador do poderoso Inter de Milão, foi um dos jogadores que fez do Torneio de Abrantes uma etapa da sua formação enquanto atleta e que logrou atingir padrões de excelência ao nível das capacidades e desempenho futebolístico. Paralelamente aos dias a que se confinava a realização da competição, muitos eram os momentos de convívio, divertimento e franca amizade que uniam todos quantos nela estavam envolvidos. Porque o futebol também se faz de amigos, mas sobretudo no estabelecimento de relações de amizade, foi este torneio responsável por muitas que criei e que hoje ainda se mantêm. Alguns nunca mais se esquecerão, mormente aqueles que nela participaram, daquela jornada em São Miguel do Rio Torto, no bar de outro grande amigo, aquele que será sempre o Night’s, em que muitos tiveram oportunidade de mostrar os seus dotes vocais. Entre os quais, alguém que é hoje treinador de relevo na segunda prova mais importante do futebol inglês. Que a festa do futebol volte à cidade de Abrantes é o que todos desejamos. Recuperar o tempo perdido não será tarefa fácil. Mas não é impossível. O conhecimento, a capacidade, a perseverança são características já demonstradas e fundamentalmente, confirmadas. Abrantes merece, tal como aqueles que ao longo de décadas têm dado muito de si em prol dos clubes. Ao contrário de outros, que preferem a quietação do sofá ou a confortável mesa de café. Mas desses, nunca a história rezará. Bem ou mal.