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01 MAR 2017
A DITADURA CAPITALISTA
Por Jornal Abarca

Lisboa exerce um poder cada vez mais asfixiante sobre todo o território nacional. E o futebol é sempre o melhor espelho da realidade. Cinquenta anos após o 25 de Abril, os dois maiores clubes da capital continuam a manter cativa a esmagadora maioria da população portuguesa, impedindo que os clubes das cidades médias consigam reunir dentro de portas um número significativo de adeptos capaz de os enfrentar.

À excepção do Porto (a nova Cartago) e de Guimarães (a aldeia gaulesa de Astérix), todas as cidades portugueses continuam a prestar vassalagem a Roma. Na nossa comunicação social, apenas os feitos desportivos dos clubes de Lisboa são valorizados e apresentados como feitos nacionais. Basta comparar a relevância e o destaque dados pela imprensa desportiva da capital à vitória do Moreirense na Taça da Liga, um feito único e provavelmente irrepetível, com os destaques dados às habituais vitórias do SL Benfica na mesma prova. Até a vitória do FC Porto na Liga dos Campeões, o maior feito futebolístico alguma vez alcançado por uma equipa portuguesa, não teve o mesmo tratamento dado às vitórias do Benfica na Taça da Liga, uma competição destinada a rodar as segundas linhas. E mesmo quando se trata da selecção nacional, os atletas e os seus feitos são valorizados de forma diferente consoante o seu clube de origem.

Em Portugal, seja no futebol ou na política, a cor de camisola é o único critério relevante na decisão para os governantes, para os dirigentes federativos, para os árbitros, para os jornalistas e para o cidadão comum, sendo absolutamente irrelevante o mérito e a razão. E num país com esta cultura é absolutamente inútil a defesa da verdade desportiva, uma vez que se trata de um combate que a razão não pode vencer.

E, como se isso não bastasse, a ganância tomou conta da Liga Portuguesa. SL Benfica, Sporting CP e FC Porto já não são apenas grandes superfícies que reduziram todos os outros clubes a pequenas lojas de bairro. Pelo contrário, SL Benfica, Sporting CP e FC Porto são e agem como se fossem os Donos-Disto-Tudo, colocando-se acima das leis, das regras e das próprias instituições de que fazem parte e que controlam, tendo a consciência plena de que, façam o que fizerem, nada lhes pode suceder.

Resumindo, o futebol português vive sob o jugo de uma feroz e sinistra ditadura capitalista. E ditadura capitalista nos dois sentidos: ditadura da capital e do capital.

NA HORA DA DESPEDIDA

Terminei o meu mandato de presidente da delegação e do Agrupamento de  Abrantes da Ordem dos Advogados com a reinstalação da especialidade de Família e Menores no Tribunal de Abrantes, de onde nunca deveria ter saído. Como chamei a atenção na altura, de forma reiterada, o governo de Passos Coelho avançou, de forma absolutamente irresponsável, para a implementação duma reforma judiciária que, para além de não ter os meios financeiros, humanos, informáticos e logísticos para levar a cabo, foi importada de um país (Holanda) que não tem nada a ver com o nosso. Portugal, ao contrário da Holanda, é um país com grandes desequilíbrios e assimetrias, pelo que exige um modelo diferenciado: um para as áreas metropolitanas de Lisboa - Porto, outro para a faixa litoral Lisboa - Porto e outro para o resto do país.

E se o anterior modelo dos círculos judiciais estava a cumprir na perfeição em todo o território nacional, à excepção das áreas metropolitanas de Lisboa - Porto e das áreas com maior densidade populacional, a reforma deveria ter separado as águas, intervindo onde era necessário e mantendo o que estava a funcionar bem. Agora regressámos à fase típica das pós-reformas portuguesas de remediar o mal feito, sendo certo que os remendos nunca conseguem reparar, em toda a sua extensão, o mal causado.

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