Há tantas palavras bonitas na língua portuguesa...
Mãe é das mais pequenas e grandiosas que consigo escrever.
Se os olhos dizem tudo, as mãos de uma mãe querem fazer tudo.
Começam por manter em segurança a sua filha e com essas mesmas mãos muda-lhe as fraldas, equilibra-a nos primeiros passos, ajuda-a com o desafio dos atacadores, acompanha-a à escola pela primeira vez...
São acontecimentos únicos que fazem parte da sua história, da sua vida e estão escritas nas palmas das suas mãos. Tal como tudo o que se seguiu.
A menina cresceu. E a mãe está mais velha.
Se em tempos o único calo que tinha estava no seu dedo médio da mão direita - por tanto escrever -, agora as marcas estão vincadas nas duas mãos ásperas.
A mãe daquela menina teve que substituir a madeira do lápis, pela madeira do cabo de uma enxada. Com a palavra escrita não podia dar-lhe tudo... Tinha que trabalhar no duro para se sentir merecedora do melhor para a sua filha, mesmo que isso significasse o menos bom para si mesma. Há mães assim, que não conseguem viver amor sem dor.
E a dor agora pertence-lhe. Mal consegue segurar um lápis.
A saúde foi-lhe madrasta e deixou de ter sensibilidade nas mãos. Não sabe se estão ásperas ainda. Não as sente.
E agora?
Agora é a menina quase-mulher que lhe dá as mãos. E a vida.