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01 SET 2017
Cinzas e saudade
Por Jornal Abarca

Este é o tempo de lamentar, mas também de prosseguir.

A Fénix renascida, ave de fogo, pássaro cinerário, é um mito grego que nos ensina a continuar, a renascer das cinzas. Este pode ser entendido quer no sentido figurado, quer no sentido literal. 

Ciclicamente, chega o estio com o calor e a seca, que lhe são característicos, por vezes acompanhados de ventos fortes, que completam a tríade, e a desgraça dos incêndios recomeça. Como se fossemos jovens atenienses, temos de pagar o tributo a este Minotauro, exigente, pois o banquete é anual e não de nove em nove anos, como em algumas versões do mito, e possante, pois não se compadece com florestas, bens e vidas humanas.

Lamentamos, mudam-se os sucessivos governos, o tempo passa, a inércia regressa e tudo fica na mesma. Aveiro, Beja, Coimbra, Entroncamento, Ferreira do Zêzere, Gavião, Horta, Idanha-a-Nova, Leiria, Mação, Nisa, Oleiros, Portalegre, Redondo, Santarém, Torres Novas, Viana do Castelo…nomes da mesma realidade – dor, perda, sofrimento… concelhos que são aqui evocados, à semelhança do que fez Saramago com os nomes dos trabalhadores da construção do convento de Mafra, como meramente ilustrativos e representativos – cada concelho representa todos os concelhos de Portugal, de norte a sul, cujo nome é iniciado com a mesma letra. Desiluda-se o leitor quando, por ausência de menção de uma das letras, julgar que nesses concelhos não existiram incêndios, o que acontece é não existirem concelhos portugueses iniciados por essa letra. Lanço o desafio para fazer uma pequena pesquisa e verificar a magnitude da tormenta.

Quase todos tivemos, de forma mais ou menos grave, este verão, as chamas à porta. É penoso, mas urge reconstruir.

A nova legislação de nada servirá se, à semelhança da anterior, for letra morta e não passar da teoria à prática, do papel ao terreno. Há que agitar as águas para que não se esqueça a tragédia desta estação e os que nela pereceram. Cada ser é irrepetível e insubstituível.

“A morte chega cedo,/Pois breve é toda vida/O instante é o arremedo/De uma coisa perdida.”, diz Pessoa.

As ausências dos que partiram, seja por que motivo for, cada vez são em maior número, a dor não passa e as saudades aumentam.

Sabemos que a vida é um caminho que seguimos, mais ou menos sinuoso, e que fazemos, ora sozinhos, ora acompanhados. Os que nos acompanham podem fazê-lo num percurso mais longo ou mais curto, fazer o caminho connosco durante um período de tempo maior ou menor. Quando nos deixam, é forçoso reunir forças e prosseguir. O seu caminho chegou ao fim, está completa a sua vida, a sua missão… o fim foi atingido. Cabe-nos a nós continuar, agarrar-nos ao que ainda temos e lutar. Por vezes, não raro, fazemos como Marta e Maria no evangelho, aquando do falecimento do seu irmão Lázaro, e questionamos “Senhor, se estivesses aqui, o meu irmão não teria morrido.” – é o nosso porquê, claro.

Termino com um poema feito em parceria com a amiga Luz, também ela, infelizmente, já ausente.

Recomeçar

Rever os amigos

Evoluir cada vez mais

Comunicar com o próximo

Ouvir os outros

Manter o espírito aberto

Escrever mais uma página no livro da vida, real-

Çar o que a vida tem de melhor

Aumentar o saber

Reinventar a escola e a vida!

 

Os desígnios são insondáveis. A mensagem, tal como a frase da protagonista de “E Tudo o Vento Levou” é “Afinal, amanhã é um novo dia!”.

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