Eduardo. Era um artista. Bem humorado, jovial.
Pintor.
Uma revista de grande nome chamara-o para criar o grafismo e à excelência do aspecto se devia também o seu êxito. Mas nada é para sempre. A revista começou a sofrer do impacto da internet, surgiam as redes sociais, as tiragens diminuíram. Eduardo escolheu entre o corte no ordenado e o regresso ao Brasil. Preferiu o abraço dos filhos, o calor da sua terra. A juventude há muito que passara como se podia ler nas rugas fundas e na prata do cabelo e não dependia daquele dinheiro para viver.... O que lhe dava prazer era criar! Com arrojo, com arte.
Ofereceu um almoço de despedida aos poucos amigos mais chegados, que amigos não faltavam à volta daquele casal deliciosamente culto, tão educadamente doce, mas tão simples na aparência. Conversámos muito. A certa altura ficou muito sério e disse-me no seu português barroco
- Você comove-me.
Tinha os grandes olhos verdes rasos de água. Partiram e ainda voltaram no Outono seguinte para a apresentação do livro dela, a dolorosa descrição duma grande parte da sua vida antes de se conhecerem.
Mas Eduardo não estava bem. Doíam-lhe as costas, daquele lado... culpa de um ventilador mal dirigido durante a viagem de avião. Ela ficou dando notícias pela internet e por ela me mandou dizer que ia morrer mas contra a sua vontade.
E cumpriu.
Nunca me explicou o que em mim o comovia.
Onde moras? Onde moras?
Se adivinhasse onde moras
Em frente da tua porta,
Olhando a tua janela,
Veria passar as horas,
As minhas últimas horas.
Sem ti a vida que importa?
A vida, nem penso nela…
Veria passar as horas,
As minhas últimas horas,
Em frente da tua porta,
Olhando a tua janela…
António Feijó (Ponte de Lima 1859 – Estocolmo1917)