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01 SET 2017
Preto versus verde
Por Jornal Abarca

Confesso a minha dificuldade em encontrar um tema que servisse de mote a este escrito, que versasse algo sobre desporto em geral, ou futebol em particular. Todos temos consciência que o mundo está louco. Muitos apregoam o apocalipse, o qual não é difícil de prever, tantas são as convulsões, os flagelos, as catástrofes, que o vão atingindo. Mas porquê? É a pergunta que se impõe. De fácil resposta: porque os homens assim querem. E nesta época, como em outros anos anteriores, a região de Abrantes e concelhos limítrofes lá vão sendo continuadamente fustigados com incêndios atrás de incêndios, por incúria de quem teve ou tem a responsabilidade de nos governar. É incompetência a mais. Aleguem o que alegarem. Por mais sirespes que funcionem ou deixem de funcionar, pelos meios ou falta deles, por mais briefings que façam ou não deixem fazer, seja no teatro de operações ou num qualquer gabinete da (des)Protecção Civil, o resultado é sempre o mesmo: a culpa, essa maldita, morrerá sempre solteira.

Ao menos que se apurasse o que correu mal. Ou melhor, sendo mais simpático, o que correu menos bem. Porque algo aconteceu. E ninguém consegue explicar, justificar. E assim, aquilo que era um cenário verde, de uma natureza tantas vezes idílica, transformou-se num monte de terra queimada, de cinza, de pranto e muita tristeza. Abrantes, Mação, Sardoal, só para referir aqueles que nos tocam mais de perto, levarão anos e anos a recuperar. A revitalizar as suas manchas verdes, as suas árvores. Outras surgirão, por certo, rapidamente. Das que crescem rápido. Para voltarem a ser queimadas. Foi este o ciclo que alguém se encarregou de colocar em prática. E por certo não foi nenhum extra-terrestre ou outra criatura qualquer. Foi um homem. A sua identificação não conheço. Talvez até já tenha perecido. Mas passou o testemunho. Disso tenho uma convicção inabalável. Mesmo distante, as imagens que as televisões nos proporcionam, fazem-me parecer perto. Perto de mais. Direi mesmo. Porque nos tocam. São os nossos amigos, até mesmo familiares, que abnegadamente defendem aquilo que parece indefensável. Estoicamente. Voltando às televisões. É um espectáculo dentro do outro espectáculo. Quais jovens jornalistas imberbes agarram nas mangueiras, vão ao limite das chamas, correm, gritam, quase sufocam, para quê: publicitar a desgraça alheia. Jamais colocaria em causa o direito à informação, mas aquilo que se tem visto ultrapassa todos os limites. Reportagens com cadáveres ao lado, imagens de desespero daqueles que tudo perdem quando o recato deveria imperar. A tudo assistimos. Para alguns, quase os vimos a atingir o clímax de tão ofegantes que estão. Chamar-lhe-ia masturbação jornalística. E como ela dura. Dura, de duração, entenda-se. Posto isto, pouco resta acrescentar. Mas o pouco tem a ver com futebol. E com verde. Contrastando com o preto que nos inunda. Não só as terras como também a alma. Dos três campos de relvado sintético que o concelho se prepara para receber. Daqui a poucos dias. A terra, que não foi queimada, está quase a dar lugar a um tapete verde. No Tramagal, no Pego, em Alferrarede. Até parece mentira. Como me disse um amigo dirigente de um destes clubes. O sonho está a quase a tornar-se realidade. A emoção que os invade comparo-a às visitas diárias, bi-diárias, tri-diárias, que fazia às obras do Estádio Municipal de Abrantes. Vi tijolo sobre tijolo, tapetes de relva a ganharem posição, até ao dia da inauguração. 5 de Junho de 2001. Outras inaugurações se aguardam. Ansiosamente.

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