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01 NOV 2017
Saudade
Por Jornal Abarca

Não sou especialista em fado. Por norma não ouço, mas gosto e contra ventos e marés, o fado é património imaterial da humanidade. Retiro o fado ou a balada de Coimbra, de características bem diferente, do das vielas de Lisboa que se estende pela Lezíra.

Se a “saudade” é vocábulo intraduzível. Se o fado era a canção permitida numa altura em que a identidade nacional era imposta pelos três efes (fado, futebol e Fátima), considero que este lamento ou alegria do tanger da guitarra retrata muito do que somos enquanto povo. E, para além, da submissão (?) a uma sociedade pretensamente dominada pelo poder da força física (masculina), as letras contrariaram, em muitos casos, esse abjecto entendimento (acórdão de Neto Moura).

Aromas de luz e de lama / Dormi com eles na cama / Tive a mesma condição./ Povo, povo, eu te pertenço / Deste-me alturas de incenso, / Mas a tua vida não.” (“Povo que lavas no Rio”, Amália Rodrigues).

Os musicólogos defendem que o fado (de origem árabe?) teria nascido nas tabernas e bordéis, nos ambientes de orgia e violência dos bairros mais pobres da capital. Tornava-se, por isso, condenável aos olhos da Igreja.

“Fui de viela em viela/ Numa delas, dei com ela/ E quedei-me enfeitiçado... / Sob a luz dum candeeiro,/ S’tava ali o fado inteiro,/ Pois toda ela era fado”.(“Viela”, Afredo Marceneiro).

Neses tempos “(...)a fidalguia /Que deu brado nas toiradas /Andava p’la mouraria / E muito falar se ouvia / De cantos e guitarradas” (“O Embuçado”, João Ferreira da Rosa).

Tudo isto porque estamos em tempo de Feira da Golegã, e de São Martinho e da sua mítica acção que em noite de invernia cortou a sua capa para aconchegar o andrajoso mendigo. Tudo isto, porque falamos de fado. Tudo isto, porque segundo investigadores, “existe um carimbo genético exclusivamente português”, que o uso exacerbado das novas tecnologias não poderão destruir causando graves alterações cerebrais.

Temos o sonho, a poesia, o mar imenso por horizonte e somos, sem o menor resquício de nacionalismo barato, um povo que canta

“À Senhora do Castelo, em Coruche, a oração /E na Feira do Cavalo da Golegã, animação/ Já passou pela Chamusca, entrou numa tasquinha /Vai também a Benavente pela festa da sardinha”

(“O homem do Ribatejo”, João Chora).

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