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01 DEZ 2017
Castanhas, santos ou sentimentos
Por Jornal Abarca

Todos os anos por esta altura do ano, desde que emigrei para a Bélgica, uma confusão talvez sadia, talvez inoportuna ou não invade a minha mente.

Em Novembro celebramos o S. Martinho em Portugal, com castanhas, geropiga, regado com muito vinho, recordo com gosto os magustos enfarruscados da minha infância e o sabor único da geropiga da minha terra.

Novembro é aqui na Bélgica também o mês em que se celebra o S. Martinho, mas de forma distinta: as crianças recriam a história de S. Martinho, e o dia em que o santo cortou com uma espada a sua própria capa… Tudo seria quase normal ou familiar à mistura com esta tradição se eu não fosse confrontada com outros fenómenos culturais: as crianças belgas vão em pequenos grupos cantar à porta das casas músicas sobre S. Martinho e em troca esperam doces... e é aí que a minha mente divaga e se confunde e penso nas Janeiras em Portugal e fico num estado de confusão temporal e de memória, duvidando de mim própria: “Mas as Janeiras são agora ou quê? Mas está tudo doido? O S. Martinho quer castanhas não quer doces” – depois paro e vejo que não são os outros que estão doidos mas talvez esta mão que vos escreve.

Mas esta é só a primeira parte da minha confusão temporal e mental, a segunda parte chega na primeira semana de Dezembro, quando aqui os festejos são visíveis para oSint-Niklaas(o S. Nicolau em português). Este santo não se celebra em Portugal de maneira historicamente correcta, ou seja o S. Nicolau festeja-se sim em Portugal mas na última semana de Dezembro. Aí todos os meninos e meninas portugueses esperam o Pai Natal. Também a imagem do meu Pai Natal português foi recentemente arruinada quando depois de tomar conhecimento sobre Sint-Niklaas – nome que deu origem a uma vila, que fica perto de onde vivo -, se contam apenas as histórias de um probre homem que gostava de dar presentes às crianças nesta  altura do ano. Depois a minha mente ainda consegue fundir isso com o conhecimento que o Pai Natal que conhecemos em Portugal, nunca se vestiu de vermelho e branco, mas que foi a Coca-Cola em anos posteriores através da publicidade que adornou o pai Natal que aprendemos a amar em pequenos.

Afinal nada é o que parece. Mas no fim do dia e quando vejo as crianças aqui tão felizes a celebrarem o Sint-Niklaas, a receberem presentes, a darem presentes aos outros, a sorrirem… quando vejo as bolachas enormes que fazem em forma de S. Niklaas que são chamadas de Speculaas penso: “Mas o que importa afinal comer castanhas em novembro ou doces? Mas o que importa vestirmos o Pai Natal de vermelho e de branco? Esperarmos pelo Pai Natal aparecer com centenas de renas ou num cavalo branco?” A resposta não podia ser a mais estranha: “Absolutamente nada”. O que importa é ver aqueles sorrisos de alegria em miúdos e graúdos e esquecer por momentos o frio desta altura do ano e pensar sim em sentimentos maiores.

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