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01 DEZ 2017
A Festa do País da Agonia
Por Jornal Abarca

O, entre outras coisas, compositor José Luís Tinoco escreveu uma canção maravilhosa intitulada “No Teu Poema”. O tema, por muitos interpretado mas mediatizado por Carlos do Carmo, fala a certa altura na “festa da Senhora da Agonia”, festejos realizados em Viana do Castelo. Isto porque gosto particularmente da expressão paradoxal “festa da agonia”. E é nisso que penso sempre que faço um retrato de Portugal.

Vamos a 2017: torna-se evidente que um ex-primeiro ministro montou uma teia de corrupção da qual fazem parte antigos CEO’s que lucraram milhões de euros enquanto liderou o país, temos outro ex-primeiro ministro que parece cada vez mais fora de forma mas cada vez mais tecnoforma, temos ex-governantes envolvidos em vistos gold, a legionella voltou e o sistema de saúde mostra-se cada vez mais insuficiente para colmatar as necessidades de uma população envelhecida, maridos continuam a matar as suas esposas, um ex-autarca condenado por crimes no exercício de funções é eleito novamente presidente de câmara no concelho mais qualificado do país, no desporto os nossos dirigentes vestem o fato de talibãs, um adepto de futebol foi morto por um adepto rival simplesmente porque têm clubes diferentes, os bancos dos outros – os tais dos milhões! – continuam a pôr-nos dívidas nos nossos colos, o jogo do ano para os nossos adolescentes consistia em suicídio para se tornarem… vencedores!, o combustível tem o mesmo preço de 2011 embora o preço do barril de petróleo esteja em valores muito mais reduzidos, o taxista que disse que “as leis são para violar como as meninas virgens” afinal não disse nada de mal, o nosso exército nem sequer se sabe proteger e os nossos polícias não têm como se defender, os seguranças de espaços de diversão descarregam frustrações em jovens adolescentes como se fossem sacos de pancada, os nossos rios são esgotos a céu aberto.

Tivemos fogos piores que sempre, e seca como nunca. Morte.

Isto é o retrato de um país em agonia. E isto era o que devia preocupar as pessoas, de as levar à rua, a reclamar o que é seu por direito e não se acomodarem no lema do “logo melhora”.

Claro que nem tudo é mau. Não me esqueci das coisas boas: o Salvador Sobral deu-nos pela primeira vez o Festival Eurovisão da Canção, o Papa alegrou milhões em Fátima, o Benfica conseguiu pela primeira vez o tetra campeonato de futebol, a Madonna escolheu Portugal para viver a reforma dourada e o Ronaldo foi pai… a triplicar. Mas, no final do dia, isto acrescenta valor às nossas vidas em que aspecto?

Aproximam-se as festas. Na minha aldeia costuma dizer-se que “com papas e bolos é que se enganam os tolos”. E assim vai continuar a funcionar: neste país, enquanto houver fogos-de-artifício e festas a granel, não há desgraça que traga o povo à rua. É a nossa festa da agonia.

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