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01 NOV 2017
AUTARQUIAS, QUINTAS E HORTAS
Por Jornal Abarca

Basta passar os olhos pela comunicação social escrita e falada e pelos debates televisivos para constatar que apenas existem duas autarquias em Portugal: a Região Metropolita de Lisboa e a Região Metropolitana Porto. O resto são pequenas quintas e hortas que apenas interessam aos respectivos donos. Mesmo os líderes de Lisboa, quando passam pelas hortas por dever de ofício e de fugida, apenas falam de Lisboa. E não deixa de ser revoltante assistir à sabujice dos hortelãos perante os senhores de Lisboa, gratos pelas pequenas ajudas que recebem da capital para ajeitar a horta. Se percorremos Portugal de norte a sul pelo interior do país, as aldeias e vilas estão num brinco: zonas ribeirinhas, polidesportivos, piscinas, estádios, rotundas, esgotos e passeios. Não falta nada, excepto as pessoas. A leste da A1 mais de 60% da população está reformada e a restante é, em regra, gente pouco qualificada e pouca ambiciosa que vive à conta das autarquias, do rendimento de inserção social ou da reforma dos pais, naquela típica economia de subsistência que caracterizam as hortas. Tenho alguma estima por alguns políticoshortelãos que cuidam da sua horta com todo o carinho e toda a dedicação. Só que depois vem o fogo e varre-lhes a horta do mapa. E qual a solução que os senhores de Lisboa perspectivam para inverter esta situação e repovoar território? Seguir o exemplo dos países europeus e deslocalizar para o interior do território serviços centrais da Administração Pública e órgãos do Estado? Isso é que era bom! A solução é destinar o interior do país aos refugiados, ciganos e todos aqueles que vivem do rendimento de reinserção social. Ou seja, segundo os senhores de Lisboa, a solução é fazer do Alentejo e do Interior-Norte a faixa de Gaza, enquanto na Cidade Lisboa-Porto fica a viver o povo escolhido por Deus. Para mim, já chega! Como disse em 2012, não voltarei a votar, enquanto a Assembleia da República não for deslocalizada para uma aldeia, vila ou cidade a leste da A1. Neste momento, “votar” é validar um sistema político corrupto que reduziu Portugal `a estreita faixa litoral Lisboa-Porto e que retirou qualquer relevância ao voto dos residentes no Interior-Norte e no Alentejo. Só o boicote a todos os actos eleitorais por parte dos residentes no Alentejo e no

Interior-Norte tem hoje capacidade para denunciar e alertar o mundo para a nossa situação e obrigar Lisboa a levar a cabo as reformas necessárias para equilibrar o território. Tenho a consciência da dificuldade de uma tomada de posição colectiva desta natureza por parte de um povo que se habituou a viver de cócoras e de mão estendida a Lisboa. Mas não há outra alternativa! Até porque não é com velhos de 60 ou 70 anos que se consegue formar um exército para declarar guerra a Lisboa.   

COISAS DO DIABO E DA CATALUNHA

Não tenho qualquer dúvida de que a maioria dos portugueses não só já se esqueceu que Portugal deve a sua independência à Catalunha como, inclusive, considera que a nossa independência foi um erro histórico. Não sou nacionalista, nem patriota. Pelo contrário, sinto-me cada vez mais europeu. No entanto, basta olhar para a brutalidade com que Madrid reagiu aos acontecimentos na Catalunha para perceber que a prepotência e a estupidez de Madrid continuam a inviabilizar a possibilidade da convivência democrática e em pé de igualdade, debaixo do mesmo tecto, dos povos peninsulares. E se a estupidez e a prepotência madrilista, pelos vistos, continuam a ser constitucionais, há uma coisa que todos devíamos perceber: em democracia, mesmo que o divórcio seja inconstitucional ou ilegal, não é possível obrigar duas pessoas ou dois povos a viverem juntos contra a sua vontade. Os portugueses, que tanto se vangloriam da gesta dos Descobrimentos, hoje até têm medo das correntes de ar, quanto mais enfrentar o desconhecido, o risco e a tormenta. Não há português que não veja o Diabo em cada esquina: seja na vitória do Syriza ou do Brexit, seja no governo de coligação do PS com a extrema-esquerda ou, agora, com a independência da Catalunha. E não deixa de ser de morrer a rir que tenha sido o mesmo povo que deu a vitória a Passos Coelho, nas legislativas, com medo do Diabo e do défice (e que, depois, viu mesmo o Diabo em carne e osso com o acordo de governo do PS com o BE e o PCP), que agora, nas autárquicas, correu com o mensageiro do Diabo. Somos mesmo um povo dado a coisas do Diabo!

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