- Saudades dos anos em que corria tudo...
Esta frase marcou o meu dia naquela sala de fisioterapia.
Ali não se se sente o cheiro a hospital e, apesar de todas as circunstâncias e casos ali tratados, vive-se uma partilha positiva de vivências e expectativas.
Não há separação entre homens e mulheres, novos ou velhos, utilizadores de cadeiras de rodas ou jovens desportistas lesionados. Num espaço aberto, quase todos se observam, alguns dão-se a conhecer e outros absorvem cada história e cada recuperação como se de alguém de família se tratasse.
- Boa, hoje já consegue equilibrar-se sozinho, senhor João, motiva a terapeuta.
- Estão a ver?
Quem viu, esboça um sorriso acompanhado de um olhar brilhante.
O senhor João parecia uma criança a aprender a dar os primeiros passos. Em vez da cadeirinha de bebé era transportado numa cadeira de rodas, mas estava determinado a que essa situação se alterasse. Apetecia-lhe correr tudo de novo, mesmo que devagar e com dor.
- A velhice bateu-me à porta muito cedo, disse.
Rendi-me.
Encantada com a sua sabedoria e força de vontade, acabei por recuperar a confiança adormecida entre algumas sessões sem grandes resultados. Passei a entrar naquela sala sempre com um sorriso e com a esperança de recuperar a capacidade motora de outrora.
Cumpri exemplarmente cada exercício indicado pela terapeuta. A dor, engoli-a em seco, enquanto olhava em redor casos bem mais dramáticos que o meu.
A dona Emília prendia com dificuldade as molas da roupa, como se do seu estendal se tratasse. O senhor Manuel fazia movimentos repetidos com um pano na mesa, como se estivesse a limpar minuciosamente o pó lá de casa. O senhor José, bem mais velhinho, tremia cada vez que segurava na peça de madeira para a encaixar no sítio certo do tabuleiro.
Tarefas aparentemente simples, quase tão básicas como respirar ou pestanejar.
Mas são tarefas como estas que dignificam o homem ou mulher.
Nada como andar pelo próprio pé e fazer as coisas com as próprias mãos...