Home »
20 DEZ 2017
"TODO O MUNDO É UM PALCO"
Por Jornal Abarca

No passado dia 08 de Dezembro assisti em Lisboa à peça de teatro que dá título a este artigo. Com encenação de Beatriz Batarda e Marco Martins, cruzam no palco actores profissionais (todos portugueses) e não profissionais de diferentes nacionalidades que representam a Lisboa actual. Multicultural. De outra forma, o actor treinado e o não actor .O que existe em comum entre toda esta gente? O sonho de viver numa cidade onde iriam encontrar trabalho e ter uma vida melhor.

É assim que temos em palco, entre outros, o guineense Helder de 56 anos que já reside em Lisboa há 22 anos e pensou que ia ser actor de verdad; o Pascoal, são-tomense de 50 anos, que só soube que vinha para Lisboa ter com pais e irmãos quando lhe mandaram fazer um fato novo, é músico, mas trabalha na construção civil porque tem filhos para “matar a fome”; o sírio Haitham que não sabe porque chegou a Lisboa e acha que no nosso país é apenas um número e um papel e no seu país fazia teatro de sombras; o angolano António de Vasconcelos, 48 anos, filho de oficial do exército português e mãe negra, veio para a margem sul com a mãe e irmãos aos 8 anos de idade, conhecido por “Ninja”, porque“apareço e desapareço com muita facilidade”, já viveu nas ruas, dançou por moedas, esteve preso e “o resto já vocês sabem”; o argelino Addelkader de 39 anos, a viver entre alfacinhas há 11 anos, que era fotógrafo e já atravessou o mediterrâneo de barco ou o bengalês Moin Ahamed, 30 anos, em Lisboa há 7 anos, que acha que “confiança e desconfiança? Somos todos uns amores com sabor a sal”.

Supostamente esta escrita teria como “palco” o Natal. Mas tem, Margarida. Olhe que tem. É que todas estas personagens são reais e irão vivenciar “Natais” longe das luzes da cidade e das famílias. Alguns nem celebram o ritual católico. Terão outras religiões. Mas serão certamente homens de bem e isso é que é importante. Mas as duas horas que passam em cima de um palco e falam das suas histórias individuais e sofridas, é de uma entrega, de uma generosidade que não há presente que substitua esta partilha de sentimentos e emoções que preenchem os nossos interiores. O imaterial que se sobrepõe ao material.

Esta persistência, anos após ano, de luzinhas e Pais Natais, obriga-me todos os anos a repetir, repetir, repetir, que celebramos o nascimento do Deus Menino, Menino Jesus, como prefiram e que não tenho paciência para os homens gordos com fatos vermelhos e casas com árvores lindas mas sem presépio.

As sensibilidades também resultam de aprendizagens e estas não se transmitem com luzes mas com o presépio. Com a sua mensagem. E a sua mensagem é de partilha. Com aqueles não actores que representaram/partilharam realidades vivenciei o Natal.

Obrigada a todos quantos não acreditam no Pai Natal.

(0) Comentários
Escrever um Comentário
Nome (*)

Email (*) (não será divulgado)

Website

Comentário

Verificação
Autorizo que este comentário seja publicado



Comentários

PUB
crónicas remando
PUB
CONSULTAS ONLINE
Interessa-se pela política local?
Sim
Não
© 2011 Jornal Abarca , todos os direitos reservados | Mapa do site | Quem Somos | Estatuto Editorial | Editora | Ficha Técnica | Desenvolvimento e Design