Assisti no passado dia 21 de Abril ao Festival Visão ( 25 anos darevista )no Capitólio, em Lisboa. Iniciar a manhã pelas 11h, com Ricardo Araújo Pereira a agradecer ao Primeiro Ministro - que se encontrava na primeira fila e tinha terminado de fazer a intervenção de abertura protocolar, a qual não escutei porque, obviamente, a minha motivação na deslocação àquele espaço era outra – ter feito a sua primeira parte, foi mesmo muito bom. Ou ter ainda evidenciado a sua versatilidade ao conseguir concretizar acordos com todos os partidos, à excepção do CDS que coitado, “já deve estar a sentir-se a gorda feia que ninguém tira para dançar”, Ricardo continua a ser o Ricardo.
Mas o momento que aguardava com a escala da expectativa no máximo, era mesmo o “Grande Encontro”, ou seja, a conversa entre António Lobo Antunes e José Tolentino Mendonça e aos quais, intencionalmente, não foi dado tema. Confesso que temi um pouco pois António Lobo Antunes, por vezes, “levita”, faz umas paragens no tempo e pensei que caberia a Tolentino Mendonça a tarefa difícil de o fazer “descer”. Este último, ainda que nas suas crónicas semanais na revista do “Expresso” não tenha uma escrita fácil, como já o ouvi várias vezes em discurso directo, sabia que na oralidade e naquele contexto aliviaria as pausas. Mas nada disto aconteceu e o diálogo entre ambos fluiu com linguagem transparente e sábia. Sábia como só os pensadores livres conseguem atingir .
Ao entrarem de mão dada no palco significa que entraram ao mesmo tempo. E porquê? Explicaram–no. Porque nos bastidores ao colocar-se a questão de quem entraria primeiro, surgiu por instantes um ambiente com um misto de respeito e cerimónia no qual ambos “empurravam” para o outro. Por isso, resolveram entrar de lado a lado. O leitor faça a sua interpretação mas, certamente, passará por uma combinação de amizade e humildade.
Tolentino Mendonça afirmou que “escrever é uma forma de contrariar a morte, de contrariar o nada. A criação é a possibilidade de riscar um fósforo no escuro. E se a literatura nos leva para a outra margem “a religião é o salto no escuro”.
António Lobo Antunes referiu que tem uma relação complicada com Deus pois zanga-se com Ele muitas vezes. Mas disse, ainda, que não é como Voltaire que afirmava “Cumprimentamo-nos mas não falamos”. Actualmente considera-se um “moderno franciscano” pois não tem telemóvel, nem cartão de crédito e agora nem carro. “Nunca fui tão livre como agora”.
Concluíram que ambos são parecidos pois quando escrevem são bichos. Não pensam em ninguém, escrevem para um buraco negro e a razão que os motiva para escrever é o amor .
Quando terminaram pensei que alguém devia ter parado os ponteiros e senti-me mais, uma vez, uma formiguinha.