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01 JUL 2018
Futebol e Estado-Nação
Por Jornal Abarca

Olhamos para um campeonato do mundo de futebol e percebemos, de imediato, uma das causas dos problemas políticos que atingem o projecto europeu. O campeonato do mundo é um hino ao Estado-Nação. As selecções representam os Estados-Nação e recebem um inequívoco apoio popular. As pessoas sentem-se representadas pela sua selecção, vibram por ela, alegram-se com as suas vitórias e sofrem com os seus desaires. A causa principal não reside no facto de serem equipas de futebol mas de serem selecções nacionais. Um campeonato do mundo é uma manifestação global de um nacionalismo soft.

Em nome do nacionalismo cometeram-se atrocidades sem fim. No entanto, os Estados-Nação permitiram a evolução dos regimes políticos nacionais para democracias representativas. Substituíram a ideia de superioridade da nação, de um patriotismo como último refúgio dos canalhas, como dizia Samuel Johnson, pelo patriotismo constitucional, fundamento de um Estado democrático e de direito, como defende Jürgen Habermas. Se há um nacionalismo perigoso, onde o pior do homem pode vir ao de cima com facilidade, há também um virtuoso, que faz depender a vida política da lei e da liberdade.

Uma das marcas fundamentais dos países que fundaram a União Europeia (UE) – e daqueles que, posteriormente, aderiram ao projecto europeu – é serem exemplos do patriotismo constitucional. São Estados-Nação, regulados pela lei e com regimes democráticos. O problema é que, a partir de determinada altura, dentro da UE, se sonhou com o fim dos Estados-Nação europeus e se começou a socavar os seus alicerces. Não foi um jogo claro e limpo. Pelo contrário. Foi acção obscura, feita nas costas dos eleitorados pelas elites políticas que, com a ajuda de alguns meios universitários, tentaram vender a narrativa de que a destruição do Estado-Nação seria inexorável e um passo para o paraíso.

O resultado deste desvario tem sido catastrófico. O sinal mais claro foi o Brexit, e o crescimento da extrema-direita nacionalista tornou-se uma moda que chegou já ao poder em vários países europeus, começando a destruir os fundamentos constitucionais das democracias. Um campeonato do mundo de futebol é sempre uma manifestação do peso que o Estado-Nação tem no coração das massas populares. Se esse coração não for cultivado por uma ordem nacional constitucional e democrática, então o desvelo com que vemos as massas populares a apoiar as suas selecções nacionais transferir-se-á para o pior dos nacionalismos que começam a pulular por todo o continente.

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