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01 JUL 2018
Caravelas e Varinos
Por Jornal Abarca

A 7 deste mês de julho completam-se quinhentos e vinte e um anos que as caravelas de Vasco da Gama partiram de Lisboa em direção à Índia, uma vez desbravado o caminho marítimo que permitisse dobrar o Cabo da Boa Esperança, feito alcançado por Bartolomeu Dias cerca de nove anos antes (1488).

Naturalmente, apesar de notáveis melhorias de técnicas e materiais na construção das caravelas e valiosos conhecimentos de navegação astronómica que permitisse, pelo menos, calcular (com o máximo rigor possível) a latitude do ponto em que navegavam ou aportavam, para além de recursos para contar o tempo (ampulhetas, Sol e Lua) ou a profundidade de baías ou enseadas em que se abrigavam, eram muitos e variados os riscos de tais aventuras. Não admira, pois, que se perdesse boa parte dos navios e muito poucos fossem os tripulantes com a sorte de regressar à pátria, no final de cada missão.

A observação da “rotação diária do céu” tornava fácil perceber – mesmo aos marinheiros pouco instruídos – que tal movimento (na época tido como verdadeiro) se processava em torno de um ponto da esfera celeste (o pólo) que se mantinha “fixo”, embora a sua elevação relativamente ao horizonte (a “altura do pólo”) diminuísse à medida que se navegava para sul. As regras e tabelas elaboradas pelos cosmógrafos, permitiam aos pilotos associar-lhes as observações feitas com quadrantes, astrolábios e balestilhas, obtendo assim a latitude que, obviamente, diminuía de Lisboa até ao Equador.

Até latitudes próximas de zero (Equador), a Estrela Polar (na época consideravelmente afastada do pólo) era usada para – uma vez identificada – conduzir à posição do pólo, para onde se apontavam os instrumentos de medição. A falta de rigor nas medições, largamente afectado pelos balanços dos navios e, muitas vezes, a ausência de ventos favoráveis, exigiam paciência e tempo para se alcançarem pontos desejados, circunstância que se agravava a partir do Equador devido ao “desaparecimento” da Estrela Polar, tornando-se inútil a aplicação do “Regimento da Polar”. Os registos produzidos em anteriores “incursões” pelo mar da costa ocidental de África tinham permitido aos cosmógrafos escolher outras estrelas e constelações com as quais elaboraram regras semelhantes, em particular o “Regimento do Cruzeiro”, baseado nas quatro estrelas mais brilhantes do Cruzeiro do Sul e com o qual se passava a determinar os valores de “ latitude sul”.

Cerca de sessenta anos depois (1553) largava do Tejo a frota de Fernão Álvares Cabral de cuja tripulação faria parte Luís de Camões, seis ou sete anos depois de terminado o seu exílio em Constância (acredita-se) e ter contemplado (e descrito, em versos) as águas do Tejo, a sua corrente e os seus barcos, certamente ancorados no “Porto da Cova” se o local onde habitava era o que a tradição popular estabeleceu como “Casa dos Arcos”, actualmente a “Casa-Memória de Camões em Constância”.

Cerca de trezentos anos depois da partida de Vasco da Gama para a Índia (inícios do século XIX) era intensa a navegação no rio Tejo, entre portos situados a montante de Abrantes e Lisboa, sendo de algumas centenas os barcos registados na região. Muitos deles possuíam caraterísticas bem ajustadas às condições do rio, em particular o fundo (chato) e uma área considerável para que, mesmo com pequenas profundidades, pudesse navegar, transportando algumas dezenas de toneladas de mercadorias, essencialmente produtos agrícolas. Foram designados “varinos”, supondo-se que a designação resulte do facto de serem “descendentes” de similares trazidos e/ou reproduzidos de Ovar, o que terá dado “ovarinos” e, posteriormente, “varinos”.

Está em curso um projeto que, a ter sucesso, dotará a nossa região – em particular Constância e Vila Nova da Barquinha – de um barco varino a ancorar no Porto da Cova, onde servirá para desenvolver atividades culturais diversas, mas com possibilidades de realizar passeios turísticos entre as duas localidades, quando os caudais o permitirem. Este Varino – designado no Projeto por “Barco de Ciência” – será equipado com instrumentos utilizados nas épocas dos descobrimentos cujos resultados serão comparados (pelos participantes) com os obtidos pelas modernas técnicas de sondas, odómetros e GPS, ao mesmo tempo que permitirá evocar a história dos locais visíveis ao longo dos passeios.

Na fase atual do projeto – que passou já à votação nacional – o seu “sucesso” depende apenas do número de votos lançados em https://opp.gov.pt, premindo “VOTA AQUI”, pesquisando “Barco de Ciência”, seleccionando “projeto 440” e seguindo as instruções de votação. Em alternativa, o voto poderá ser lançado através de mensagem de telemóvel (SMS), indicando no número de telefone “3838” e escrevendo no espaço da mensagem: OPP (espaço) 440 (espaço) Número de CC ou de BI e … enviar.

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