Após as recentes eleições que ditaram a maioria de partidos eurocépticos em Itália, aprofundam-se os receios quanto ao programa político do novo governo, que deverá resultar da aliança entre a Liga Norte e o Movimento 5 Estrelas. O discurso pré-eleitoral dos dois partidos antevia já alterações radicais na orientação política de um país central para o projecto europeu, já que é membro-fundador e a terceira maior economia da zona euro. Os receios centram-se fundamentalmente em duas visões: aqueles que receiam que as políticas económicas expansionistas já prometidas pelos partidos vencedores, o desrespeito pelos compromissos europeus e a sua já vincada postura anti-sistémica e eurocéptica possam abrir uma caixa de Pandora no verdadeiro centro da União Europeia e provoquem uma crise económica de dimensão incontrolável; outros acreditam que a realidade irá obrigá-los a moderar as suas posições e a restringir os excessos inerentes à sua ambição política. No entanto, este é um governo cujas ambições políticas poderão fragilizar ainda mais a construção europeia e o aprofundamento da integração política e económica necessárias à solidificação das instituições europeias. Os danos a serem causados poderão ser ainda maiores num cenário de crise económica: para a França, a vitória dos conservadores e populistas de direita italianos é uma derrota pessoal para Macron, o presidente que lidera a vanguarda no aprofundamento do projecto europeu e que vê a influência francesa no futuro europeu ser posta em causa pela ausência de um apoio mais sólido; a Alemanha, fragilizada pela sua solução governativa, não tem agora a força política e o músculo que teve durante o auge da crise e tarda em acompanhar a França na reforma das instituições europeias. Com o isolamento francês e a debilidade alemã, será mais difícil ao pares europeus estabelecerem linhas de controlo ao novo governo italiano que sente agora ter espaço de manobra para brincar à política. A consolidação do projecto europeu parece estar, uma vez mais, adiada.