A crónica deste mês pode para o estimado leitor parecer pouco usual. Este mês quero falar sobre a peniafobia ou medo aos pobres.
Esta temática tão actual é na verdade um enorme tabu nas nossas sociedades.
Os pobres por ser pobres não são necessáriamente sujos, assustadores ou nojentos como tantos de nós expressam todos os dias, através de palavras, gestos, atitudes e até aquela má etiqueta de verniz hipócrita que estala na pausa das horas e da vida.
Vejo todos os dias um homem que pede cigarros e dinheiro na estação, muitas
pessoas só de o ver fogem, ou por receio que seja agressivo ou simplesmente por pedir dinheiro, fogem. Há dias estava na pausa do meu trabalho apareceu outro homem idoso claramente sem abrigo, estava a pedir um cigarro, o homem não cheirava mal nem era intimidativo. Ninguém lhe queria dar um cigarro. Homens grandes, pequenos, com barba e sem barba, de gravata ou de computador às costas, todos se afastavam como se estivessem a ver uma assombração. Pedi que esperasse um pouco, andei uns metros e pedi com o meu melhor sorriso a um homem um cigarro. Recebi logo um. Caminhei mais dez passos e pedi a outro homem de gravata um novo cigarro, fiz outra vez o meu melhor sorriso e agradeci.
Como tinha dito ao sem abrigo para que esperasse um pouco, dei ao
sem abrigo idoso os dois cigarros. De repente ficou tudo parado. Como se eu
tivesse cometido o maior dos crimes e estivesse em grande perigo de saúde mental. O homem idoso sorriu e disse “Merci beaucoup pour le cigarretes.”
No capítulo focal do livro “Indignados” fala-se sobre esta indignação que o autor sente, de ricos e pobres, milionários e sem abrigos partilharem o mesmo espaço físico e, muitas vezes, social sem existir qualquer tipo de partilha de valores, ideias ou até de capitais. O autor fala de como antes existia a nocão clara de estratificação social.
Talvez o escritor do livro “Indignados” tenha razão em pensar que existe qualquer coisa de revoltante no facto do sem abrigo pedir um cigarro ao milionário na rua e ser visto como lixo, talvez exista qualquer coisa de aberrante naquele momento onde a bela mulher oferece o seu melhor sorriso ao homem que não fez nada de grandioso para merecer a sua gratidão plebeia. E a vida queridos leitores corre…