Home »
01 SET 2018
VENDAVAL DE TROCAS (CORRETAS?),
OU COMO FAZ TANTA FALTA UMA PALHINHA -
I - A Feira das Férias e B&C4G
Por Jornal Abarca

Bose, Idaho, 2017

Admito que o tema possa não ser ameno. Mais a mais para quem esteja agora nas tais curtas semanas de férias, num palco alternativo mas classicamente luso:

1. Estendido em areal gratuito e generoso, porque que eu saiba ninguém se lembrou ainda de cobrar o IVA ou uma taxazinha apropriada. No mínimo, garanto como advogado que a lei é clara - toda a faixa entre 10 a 20 metros da orla marítima nacional e insular faz parte da reserva de segurança nacional da nossa Marinha. Ora se a Marinha já precisava de fragatas, agora com os imigrantes a desembarcarem nos Algharbs as grávidas esperanças, mais barcos, barquitos, barcaças, bóias e, em caso de desespero, coletes de rolha são precisos. Logo, quem se espraie e acomode as ancas, glândulas superiores, glúteos que concluem o espinhoso dorso e demais partes que ainda consigam ser privadas, enfim, quem assim se alargue e acomode às boas pônchegas sobre as nossas dunas e areais, está a beneficiar injustamente de um bem nacional… e a custo zero! Ora, isso é politicamente incorreto;

2. Mergulhando os olhos no azul celestial entre copas de pinheiros não ardidos, num tapete de relva decoradinho com as beatas, preservativos, agulhas de heroína e garrafas de plástico do costume, está tudo nos conformes desde que não impeça o leitor de coçar discreta mas langorosamente o umbigo com uma palhinha (disse “palhinha”, sim senhor. Os canudinhos de plástico estão proibidos – é o ambientalmente correto);

3. A dormitar num sofá, fazendo festas entremeadas a um gatinho felpudo, num gesto repetido, “largo e moscovita” (obrigado, Fernando) ainda que “embriagadamente nostálgico” (obrigado Torga). Note-se bem que um gato digno desse nome, nunca está distraído nem embriagado quando recebe festas. Sobretudo quando são feitas pelo eunuco ou serva de gleba de plantão doméstico, às suas ordens. Afinal, um gato possuia casa dos “donos” e chupa-lhes figurativamente os ossinhos todos. Isso é que é gatiferamente correto,não o oposto. E outros tipos de férias e feriados haverá – por mim, é palavra um tanto desconhecida, porque talvez tenha encontrado neste país uma fórmula de trabalho intenso, mas com intervalos de puro divertimento mozartiano, ainda mais intensos. Posso dar um exemplo?

Victoria O´Malley (Vicky para os amigos), professora de sociologia de culturas, minha colega nos meus tempos de Bismark (Dakota do Norte), muito culta e interessada, pedia-me com frequência dados sobre a nossa história e cultura. Para ela, Portugal não podia ter chegado à África, ao Brasil, India, Malaca, Macau, Japão - tinha que haver mais.Mais? Como? E porquê?

Ora, porque não percebia. Não percebia porque a Inglaterra, França, Holanda e até a Alemanha não sabiam de nada, entretinham-se em guerritas semi-religiosas. Portugal é que descobriu como se abria o cadeado e, no entanto, tinham aproveitado bem a nossa boleia de navegação marítima - desenvolveram em mais ou menos quatro séculos, um património económico, cultural, artístico, filosófico e científico tão amadurecidos e até hoje sempre em crescimento. E Portugal “so little and so genial(tão pequeno e tão genial)tinha chegado sim senhor, montou fortalezas, fez prodígios, colocou padrões, comprou e vendeu canelas, pérola, cânfora, sândalo e sedas, mas não soube parar, sempre mais longe, mais longe, tão longe… que talvez tivesse sido “longe demais”. E Vicky concluiu:

- Devo estar enganada mas Portugal imperou quando muito por 60 a 70 anos. E apagou-se. Se soube manobrar muito bem os espanhóis em Tordesilhas, se fez um portento no Brasil, a verdade é que as ex-colónias que foram e são a chave-mestra, são o Canadá, os Estados Unidos, a Austrália, Singapura, a Nova Zelândia, etc

Não ia ficar assim - dava (e deu) pano para muitas mangas. Claro que ela não conhecia a nossa história em detalhe – o cretino do puto do D. Sebastião; a “traição” das Cortes de Tomar; a anedota da Invencível Armada, 60 anos de filipada indigesta; como foi corajoso chegar e ultrapassar 1640; as invasões francesas; um tal de Pedro que nos chutou porque quis ser Imperador do Brasil mas como não deu certo, trocou rapidamente de cueiros para ingressar na equipa do 4.º dos  Pedros. E nós (desculpem) armados em parvos, deixámos correr o marfim, Faz favor Alteza, Por quem é Alteza… E quanto ao Made in America, tinha bons argumentos para ela - foram os Estados Unidos que se esfolaram vivos numa bruta guerra civil por causa de um fator que sem baunilhas cosméticas não deixa de ser tão simples como isto – os escravos eram uma mão de obra muito barata, o que beneficiava muito o Sul e irritava o Norte. Mas isso era para outro dia.

E agora, a parte divertida - nem dois anos depois, Mrs. Victoria O´Malley tão adulta, tão capaz, tão conhecedora, tão passadinha a ferro, tornou-se cabeça de cartaz em ruidosa campanha dos media locais e regionais: a B4G – Bedouins and Camels For Galapagos. Tinha-se armado em defensora dos pobres dos beduínos e ainda mais dos seus tristes e solitários camelos, um dó, tinham que ser todos, todos transportados para os frescos Galápagos: - Chega de dunas! Chega de morrer de fome e de sede! “Galapaguem” um beduíno com a sua família e o seu camelo por apenas 10 Dólares por mês! Ajudem-nos!

Interessante, não acham? Primeiro pensei ser anedota, mas quando um dia me viu nos corredores e veio toda agitada pedir que fosse missionário pro-beduíno, não resisti:

- Vicky, admirável, admirável… Mas acho que se está a esquecer de três coisas. A primeira, o Parlamento da República do Equador já autorizou? Em cheio. Claro que não sabia que o arquipélago era legítimo território do Equador. Respondeu maquinalmente:

- Ah, sim? Ora, nada de especial. Enviam-se os Marines. E a segunda coisa?

- Acha que os beduínos concordam?Olhe que o Saara é muito grande, marroquinos, argelinos, da Mauritânia, do Chade entre outros países. É complicado… Não se perturbou ou fez bom papel disso. E perguntou friamente:

- Estamos a tratar disso… E a terceira? 

- Uma coisa é certa. Os simpáticos dos camelos estão habituados a comer cardos saarianos, muito secos mas cheios de glicose encorpada e nutritivos. Além disso, calculo que nunca provaram o que mais há nas ilhas, os famosos rebentos de rabanetes silvestres, uma especialidade da Natureza Galapiana. Mas venenosa. Já leu o famoso relatório botânico de Darwin? Como os vai controlar?

Ficou furiosa. Mais passou-lhe. Pior foi quando algumas línguas ferinas desvendaram o verdadeiro motivo da B&C4G– é que os desertos (e o Saara à cabeça) são dos poucos locais ambientalmente impolutos do planeta. Muito áridos e secos, mas desinfetados, grão a grão, cristais e micas limpinhos. Ora, se assim é, porque se precisa lá do género humano atrasado, sujo e poluidor? Limpe-se primeiro o Saara. E depois o Kalahari, o Gobi, Baja Califórnia, Patagónia, os Andes da Bolívia, uma gigantesca limpeza ambiental. E foi assim que o B&C4Gdeu o último suspiro. Mas olhem o que o Darwin diria se tivesse sabido!

Mas voltando ao correto por incorreto, deixo isso para a segunda parte. O resto de boas férias.H&GB.

(0) Comentários
Escrever um Comentário
Nome (*)

Email (*) (não será divulgado)

Website

Comentário

Verificação
Autorizo que este comentário seja publicado



Comentários

PUB
crónicas remando
PUB
CONSULTAS ONLINE
Interessa-se pela política local?
Sim
Não
© 2011 Jornal Abarca , todos os direitos reservados | Mapa do site | Quem Somos | Estatuto Editorial | Editora | Ficha Técnica | Desenvolvimento e Design