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01 AGO 2018
Da cor do fogo
Por Jornal Abarca

A última vez que vi as paisagens ardidas do Algarve vi o planalto da serra algarvia castanho, sépia e vi depois surgir entre montes as primeiras plantas verdes. Tenho reflectido

também sobre a cor cinza das paisagens do Marão e sobre a história de um pai que incitava o filho a ser pirotécnico.

Tenho visto zonas consideradas verdes a esvairem-se no meio da paisagem onde o verde dá origem ao castanho, depois dá origem ao amarelo e por fim a aparecer no meio da paisagem um branco que dá origem a uma construção desorganizada do território. O preto emerge entre o empilhamento de pessoas, carros e tudo... começo por observar a paisagem do meu carro mudar como um organismo vivo.

Existe sempre aquele momento vivo em que o cinza dá origem ao castanho e o castanho dá

origem ao verde. Penso de que cor serão as casas reconstruídas em Pedrógão Grande. Pergunto-me de que cor serão os “ 500 mil euros que terão sido desviados para obras que não se consideravam de urgentes” e entre reflexões sobre a cor, forma e significado de todas estas coisas penso que se para os outros as cores que eu vejo são as mesmas ou se por algum estranho mistério os portugueses estejam tão ocupados que sofram de um daltonismo profundo – doença que afecta a capacidade visual, em que o paciente é incapaz de distinguir as cores.

Ontem estive com algumas notas de dinheiro na mão, lembrei a nossa moeda antiga: o escudo. E vi as impressões complicadas impressas nas notas e as cores fortes do dinheiro, uma sensação de impotência invadiu o meu espírito como se por algum momento aqui de férias entre a vastidão da floresta em Amarante a cor das notas do dinheiro fosse mais forte

do que o barulho verde e fresco das folhas das àrvores com o vento, mais forte do que as antigas árvores de resina que suspensas do monte continuam ardidas mas em pé.

Talvez eu seja como uma dessas àrvores, que apesar de ardidas continuam de pé, talvez em breve o vento ou uma cor mais forte me derrube... até que isso aconteça vou continuar assim suspensa como o fantasma de um organismo que já foi vivo morto por uma cor mais forte.

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