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01 ABR 2007
IRMANDADES AJUDAM A MANTER A TRADIÇÃO
Por SÓNIA PACHECO

 

As Irmandades ocupam um lugar de destaque no Sardoal, sendo responsáveis pelas cerimónias da Semana Santa e as celebrações são “um orgulho para a vila”.

 

Irmandade da Vera Cruz ou dos Santos Passos, Irmandade do Santíssimo Sacramento e Irmandade da Santa Casa da Misericórdia são as associações de fiéis existentes no Sardoal e são as responsáveis pelas cerimónias da Semana Santa. O testemunho que, ao longo dos tempos, tem passado de geração em geração, dá um cunho particular a estas celebrações.
“Todos somos poucos para fazer algo e estas festividades são riquíssimas”, declara José Curado, reitor da Irmandade da Vera Cruz, cujo Compromisso data de 1870. “É democrático para a época em que foi feito”. Todos os Irmãos recebem uma cópia deste documento.
José Curado está na Irmandade da Vera Cruz desde 1974. “Já o meu pai e outras pessoas chegadas faziam parte”. Mas, acima de tudo, foi a educação que recebeu que o levou a tomar a decisão e mais tarde assumiu o cargo de reitor. Também a sua mulher o acompanha nestas lides. “É uma das responsáveis pelos anjinhos que saem na Procissão dos Passos”. Só os filhos ainda “não seguiram os passos do pai”.
Funcionário da Conservatória do Registo Predial de Sardoal, José Curado, 51 anos, é também comandante dos Bombeiros de Sardoal. Para ele ser Irmão da Vera Cruz “é um pouco como ser bombeiro”, já que “na hora abdica-se de tudo para participar nas festividades”. No entanto, os imprevistos acontecem. “Uma vez, íamos na procissão quando tocou a sirene e, como alguns Irmãos também são bombeiros, a procissão teve de parar”, conta José Curado muito sorridente. “Isto também é fé e a azáfama para que tudo corra bem mexe connosco. Se não pudermos sair por causa da chuva, ficamos zangados”.
Envergando opas roxas, a Irmandade da Vera Cruz tem a seu cargo a Procissão dos Passos do Senhor e a Procissão do Enterro do Senhor. “Independentemente da fé de cada um o nosso espírito é fazer o bem por todos e fazer tudo para que as cerimónias corram o melhor possível”. Segundo José Curado, as procissões nunca são iguais, apesar do ritual ser sempre o mesmo.
Estes dois momentos destacam-se nas funções da confraria que também marca presença noutros dias litúrgicos. “A paróquia pode dinamizar outras funções entre as três Irmandades e era bom para que o nosso papel não se cinja à Semana Santa”, sugere o reitor.
O habitual peditório e algumas ofertas vão fazendo face às despesas das celebrações. Por outro lado, também os irmãos pagam uma cota anual, de valor simbólico, no dia do primeiro cortejo religioso.
Constituída por cerca de 80 confrades, dos 14 aos 80 anos, a Irmandade pretende “contribuir com um pouco da sua devoção para que as procissões tenham o brilho desejado”. O reitor diz sentir orgulho no facto de conseguir que muitos jovens participem. Considera que, actualmente, as pessoas não estão muito vocacionadas para a Igreja, mas o “juntar da juventude com os menos jovens” leva a que esta associação de fiéis se mantenha “viva e bem viva”.
O mesmo não acontece na Irmandade do Santíssimo Sacramento cujo reitor, Horácio Augusto, 85 anos, afirma: “As pessoas já estão a ficar velhas e não há quem entre”. Saudosamente lembra que a associação de féis que comanda já integrou mais de 100 elementos. Hoje são apenas 68 e o mais novo tem 40 anos. “Se fossemos mais enalteciamos mais as procissões”, diz o reitor desta Irmandade cujo Compromisso data de 1877. “É preciso chamar os jovens e motivar as crianças para virem à Igreja terem gosto pela religião”.
Trajando com opas vermelhas, a Irmandade do Santíssimo Sacramento colabora com a Irmandade da Vera Cruz na organização da Procissão do Enterro do Senhor. Em Quinta-Feira Santa, marca ainda presença na cerimónia do Lava-pés.
Ferroviário até aos 62 anos, Horácio Augusto esteve sempre ligado à Igreja na organização dos vários serviços que esta instituição religiosa presta e exerceu, durante nove anos, o cargo de secretário da Santa Casa da Misericórdia do Sardoal, a mais antiga Irmandade da vila.
Denominada Confraria de Santa Maria da Caridade, a Irmandade da Santa Casa da Misericórdia nasceu em 1509. Destacando-se das suas congéneres pelos serviços que presta, a Misericórdia manteve um hospital até 1979. Hoje dispõe de um lar com 44 utentes, apoio domiciliário a 60 utentes, centro de dia com 52 utentes, assim como, cresce e jardim infantil com 20 crianças em cada uma das valências.
A Confraria integra cerca de 350 irmãos dos 27 aos 96 anos. No entanto, “queremos convidar mais jovens para aderirem para que não se pense que aquilo são coisas de velhos”, explica o provedor, Anacleto Baptista.
Do papel da Misericórdia, durante a Semana Santa, destaca-se a organização da Procissão dos Fogaréus. “Há procissões parecidas, mas não com estas características”, diz Anacleto Baptista. A Procissão do Senhor Jesus da Misericórdia, a celebração da Visitação de Nossa Senhora, a cerimónia da Senhora das Misericórdias e a festa religiosa em honra de Santa Maria da Caridade são outras das responsabilidades desta Irmandade.
“Procuramos fazer sentir às pessoas, que estão ao nosso cuidado, que ainda continua a existir vida e, apesar de estarem no seu declínio, todos temos sempre algo para dar”, afirma o provedor desta Misericórdia que veste capas pretas. “As obras de misericórdia acompanham as pessoas até ao fim com toda a dignidade e no final aparece o luto. Talvez por isso as capas sejam pretas”, explica Anacleto Baptista que considera que hoje se perdeu o sentido de Irmandade, assim como a noção exacta do que é uma celebração religiosa.
Terminada a quarta classe, o provedor frequentou o seminário durante alguns anos. Solicitador de profissão, Anacleto Baptista, 69 anos, esteve desde sempre ligado à religião. “Talvez o leite materno me tivesse levado”.
A presença das Irmandades nas celebrações da Semana Santa é fundamental para que a tradição se mantenha. No entanto, a fé já não é o que era. “Muitas pessoas nem vêm pela sua devoção, mas sim para verem a grandiosidade das procissões”, declara José Curado. O reitor da Irmandade da Vera Cruz defende ainda que a devoção “não se mede ao metro”, logo o facto de se participar em mais celebrações religiosas não é sinónimo de se ser mais cristão. Horácio Augusto, da Irmandade do Santíssimo, partilha desta opinião afirmando mesmo que “a fé está muito por baixo”. Já Anacleto Baptista considera que “a fé não está abalada, as pessoas é que a deixaram de cultivar”. O provedor diz ainda que “a fé é uma planta que se não for alimentada morre”.

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