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01 MAI 2017
Vinhos do Ribatejo
Por Jornal Abarca

No passado dia 25 de Março realizou-se em Tomar a habitual Gala de Vinhos, promovida pela CRVT, debaixo da égide da Confraria Enófila Nossa Senhora do Tejo. A chancela TEJO é abrangente de todo o território da Província e segundo especialistas em promover marcas é universalista no contexto dos rios grandes estradas civilizacionais com a consequente fixação das populações.

Se os vinhos produzidos no Ribatejo durante largo período de tempo foram sistematicamente colocados num segundo ou terceiro plano no tocante a prestígio e reconhecimento por parte de gregos e troianos, entenda-se cultores de só beberem tranquilos do Douro e do Dão, no referente a intranquilos da Bairrada e Lamego, o povo, o tal povo sem grandes recursos, fosse o rural, ou o operariado e baixo funcionalismo lisboeta, compunha as refeições e alegrava os tempos livres bebendo-os prazenteiramente. Brancos e tintos.

No Parque Mayer as revistas glosavam os vinhos ribatejanos, destacando-se nas piadas burlescas o carrascão do Cartaxo, já nas carvoarias, adegas e tascas o carrascudo lograva grande apreço, bem como os brancos oriundos de Almeirim, ainda os dois – branco e tinto – das vinhas da Senhora Companhia, a Companhia das Lezírias.

A documentação histórica, a literária (conto, poeria e romance), a geográfica e etnográfica dizem-nos quão relevante foi a produção vinícola ao longo dos séculos (pensemos no abastecimento das colónias) até ao seu desmerecimento baseado no duplo benefício da região duriense.

No Ribatejo sempre foram produzidos de alta qualidade bebidos apenas por quem os produzia e se podia dar ao luxo de os guardar em boas condições de forma a aguentarem o passar dos anos. Em muitas quintas da Região assim se procedia, pois também no Ribatejo existiam e existem Quintas proprietárias de sólidos e respeitáveis pergaminhos no que tange à adequada preparação das vinhas, boas adegas, modelares tanoeiros e, fundamentalmente, minuciosos e caprichados adegueiros.

Nesta breve e descolorida resenha não iludo a questão fulcral – a desventura da fama – a causar prejuízos ainda hoje aos produtores porque nefelibatas, bebedores pelo rótulo e donos de ignorância bebedora persistem no franzir o sobrolho na altura de lhe ser indicado um vinho destas paragens.

A graça reside quando lhes é servido sem saberem a origem, após os beberem exclamam elogios e aprovações, na altura de desvendar a identidade franzem a testa, soletram sílabas exculpatórias. Uma vez atrevi-me a praticar a «brincadeira» convidando um senhor dado a sentenças definitivas relativamente a vinhos, muito adstrito aos durienses, no afã da adivinhação rotulou o provado de excelente amostra do Douro. Enganou-se redondamente.

O movimento de renovação sem rupturas com o passado vem sendo concebido de forma pendular em pacífica coexistência de brancos, rosés e tintos, tranquilos e intranquilos, resultando desse movimento resultados apreciáveis em termos de crescimento económico, primacialmente, no âmbito das virtudes qualitativas.

Se o leitor pesquisar um pouco verificará quão grande foi a transformação verificada também na esfera da apresentação, promoção e divulgação, os rótulos e contra rótulos ganharam relevo artístico e informação, embora no meu entender nalguns casos persista o mutismo sobre as castas e técnicas de vinificação empregues.

Nem tudo está bem, num nicho de negócio extremamente agressivo o relacionar cada vinho à zona de onde é oriundo é imprescindível, longe do mimetismo ou do copianço os produtores, enólogos e técnicos de marketing quando pegam na mala de catão «o termo pertence a um importante produtor» têm de saber contar os vínculos distintivos da sua especial mercadoria, tal como aquela rapariga contou uma história durante mil e uma noites. Salvou-se!

A salvação só é possível como todos os indicadores o provam, é também esteio de desenvolvimento a englobar outros pontos de referência patrimoniais existentes na Região a poderem originar mais riqueza, logo fixação de pessoas e consequente criação de empregos. O vinho – os vinhos – já demonstraram e demonstram o seu valor em todas as regiões do Globo, pensemos na Nova Zelândia e/ou no Chile e Califórnia.

Sobre o seu beber as estantes das livrarias exibem títulos e mais títulos dedicados a tais temas, salvo melhor opinião, o consumidor aprende «treinando» isto é: bebendo, comparando, harmonizando, rastreando, voltando a beber até chegar ao estádio de saber escolher aqueles que lhe concedem felicidade. Ora, no Ribatejo há vários exemplos de felicidade engarrafada mercê do árduo esforço de muita gente animosa a toda a hora do dia e da noite.

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