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01 MAR 2017
Amor em tempos de guerra comercial
Por Jornal Abarca

Este ano, o dia de S. Valentim foi diferente para mim. Não sei como foi para o estimado leitor de abarcaou para o leitor digital. Este ano a única coisa que pensei escrever no meu perfil de facebook e redes sociais afins, foi uma frase em inglês “You may kiss my Valentine” (Podem beijar, se quiserem, o meu Valentim). Achei, contudo, que a expressão tinha e tem um tom ordinário a roçar o brejeiro. E tem.

A verdade é que todos os sites, publicidades comerciais, jornais, revistas, televisão, internet... se enchem de promoções, coisas fúteis. Mas ninguém, ninguém mesmo, se interroga sobre coisas que realmente importam. Como é afinal o amor no século XXI? Como se expressa, por exemplo, num mundo cada vez mais diversificado, amor por uma pessoa do mesmo sexo? Que presente sexualmente estimulante se oferece a alguém, por exemplo, que é assexuada (sim ninguém fala nisto porque o mundo inteiro tem forçosamente de gostar de sexo… Como se expressa o amor que se tem por um filho, ou por uma mãe no dia de S.Valentim? Como se expressa o amor simplesmente por um amigo que se sente só? Não pode... o dia obedece às regras dos casais estritamente heterossexuais que estão numa efusão amorosa que desafia as leis das ciências biológicas e sociais.

Depois há aqueles momentos ridículos... quando as pessoas se sentem sozinhas no dia de S.Valentim por ser forçosamente o dia do amor, quando estão sozinhas o ano todo ou talvez uma vida inteira sem darem conta disso... porque parece que só no dia de S.Valentim são lembradas.

Ou aqueles reclames apelativos do “pague um menu para dois”... ou seja, os solitários que possam gostar de alguém, vão ter de comer de mais ou pagar a mais por um dia que lhes é já intrinsecamente infeliz.

O único momento de leitura lúcida que tive durante o dia de S. Valentim foi quando li a piada supostamente seca de alguém que parafraseava a conversa de duas pessoas do Porto.

“– Queres ser o meu Ballentine (s)?

– Não posso ser antes o teu Jack Daniels?”

Andamos todos a dormir e talvez nesta procura pelo “amor”, ou que se diz “ser amor”, quem ganha são os soldados das guerras comerciais. E são as munições das propagandas que justificam não só os aumentos de 15% a 20% nas sex shops, lojas de perfumaria, restaurantes e outros... pena que no dia 15 de Fevereiro sejamos todos outra vez pessoas comuns sem amor, prazer ou sexo, para oferecer e sejamos também um pouco mais pobres não só na carteira, mas de algo muito mais valioso: o amor próprio.

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