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01 MAI 2017
Crónica sem Abril
Por Jornal Abarca

Esta podia ser uma crónica como tantas outras. Podia ter como título “Somos todos Abril” ou ser uma crónica a soar a provérbio popular estilo: “Em Abril tensões mil”. Não é.

Às vezes penso nas crónicas, nos textos e nas palavras como símbolos. Penso e sei que os títulos são agora imortais, talvez um dia os textos escritos no papel deixem de existir e talvez um dia alguém estará a ler este mesmo texto num holograma.

Estava a refletir sobre Abril e sobre o significado que tem para nós portugueses este dia quando falavam na televisão sobre a bomba mãe lançada no Afeganistão. Ao ler mais sobre isto que a bomba tinha custado cerca de 300 milhões de euros, que tinha sido lançada para destruir 11 tunéis subterrâneos... que tinha morto 36 pessoas, que existia outra ainda mais potente chamada o pai de todas as bombas na Rússia... ao pensar e refletir sobre a bomba mãe, sobre a bomba pai, sobre as bombinhas de testes sérias ou falsas na Coreia do Norte e ao comentar todo este jogo de vida e morte, bombas e estratégias alguém me perguntou : “E como é que eles sabem se a bomba matou mesmo só 36 pessoas? Eles têm pessoas a trabalhar nos túneis ou quê?”

Por um instante o tempo parou. Fiquei suspensa na pergunta. Fiquei a pensar de como deveria ter sido o 25 de Abril, de como as pessoas se orgulhavam de terem usado códigos em jornais para se libertarem de opressores, fiquei a pensar no cheiro forte dos cravos cor de sangue, nas histórias do general Spínola que lia na escola e nos jogos com sacos de serapilheira e nas medalhas que adorava ganhar nas corridas do 25 de Abril quando era criança…Pensava no som que faziam as malhas de ferro que os velhos jogavam na minha infância e no som da bomba mãe ao atingir a terra.

Terminado o tempo de memória, euforia e sonho começei a pensar como todos nós paramos de nos questionar, como podemos noticiar, falar ou filmar sem interrogar as nossas fontes? Como julgar ou avaliar sem ouvir todas as partes? A pergunta volta agora outra vez à minha cabeça “Como sabem os jornalistas, que fontes oficiais foram usadas para determinar que uma bomba que custou ‘cerca de 300 milhões de euros’ (como é referido no Jornal Expresso) matou 36 pessoas? Como sabemos se crianças, idosos e outros civis foram ou não atingidos?” O que significa “Fontes oficiais confirmaram 36 mortes.” – quem são as fontes oficiais?

Que espécie de Abril foi este que tivemos que ainda não nos ensinou a questionar, a inquirir e a pensar por nós próprios? Será que a sombra do poder é mais confortável que o exercício de pensar? E é assim estimados leitores que vos deixo, enquanto ouço a música do Zeca Afonso no meu computador “Dorme meu menino a estrela D´alva” e vou lendo e analisando notícias disponíveis nos diferentes meios de comunicação.

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