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01 ABR 2017
Centenários, factos, omissões
Por Jornal Abarca

Este texto expressa a nossa opinião sobre a cronologia histórica apresentada no número 100 da “Passos” (revista do Município de Abrantes) que se apresenta como um repositório do que de mais importante aconteceu na cidade nas últimas décadas.

O assunto pode parecer de somenos, mas não o é. Uma cronologia “histórica”, criada para servir de pano de fundo a um centenário, com a importância que se atribui em Abrantes à elevação a cidade, é um assunto de responsabilidade, não de lana-caprina.

No nosso caso, ao consultarmos a cronologia, na parte em que vivemos em Abrantes (anos 60 e 70) ficámos estarrecidos. E o caso não é para menos. Coisas importantes (na nossa opinião, obviamente) não estavam ali. E o mesmo sucede com outras décadas, inclusive mais recentes.

Quem fez a cronologia achou que bastaria ir a um qualquer jornal de época e respigar algumas notícias. Depois, era encontrar uma forma de as apresentar e já está: o centenário podia estar tranquilo,… Que a tarefa estava cumprida.

A questão, no entanto, é outra. Qual é o valor de um texto que ignora outras fontes históricas para lá dos jornais de época? E sobretudo, numa época em que, como qualquer pessoa minimamente informada sabe, os jornais estavam sujeitos à mais férrea das censuras.

A cronologia sobre os primeiros 100 anos de Abrantes, como cidade, enferma de um problema de método (de recolha de acontecimentos). E se o método está adulterado poderá o resultado obtido estar correcto?

Pelo menos no que toca aos anos 60 e 70, o conteúdo da cronologia tem omissões que distorcem de forma efectiva a realidade das décadas e não permitem, nem perceber como a cidade teve momentos em que foi vibrante, ou como eram evidentes as tensões e as dicotomias sociais.

Pode argumentar-se que numa cronologia histórica alguma coisa terá de ficar de fora. Concordamos com o argumento. Já nos causa alguma perplexidade o “alinhamento” da cronologia com as notícias oficiais e a incapacidade para usar outras fontes.

Ao lermos a revista este número 100 da “Passos” ficámos com a sensação de que, pelo menos no que respeita aos anos em que vivemos em Abrantes, a cronologia não faz jus ao que a Cidade foi. Nesse sentido, a cronologia é uma enorme decepção.

Mas, quando falamos de omissões nas décadas de 60 e 70 estamos a falar de quê? Ficam aqui alguns acontecimentos esquecidos –sem preocupações cronológicas.

A presença dos Mercenários do Katanga em Abrantes, protegidos pelo regime de Salazar; Prisão de cidadãos, pela PIDE, na sequência do atentado conduzido pela ARA à BA3 em Tancos; Participação do cantor José Afonso e outros cantautores nas Jornadas Culturais; Impedimento pela PIDE da entrada em Portugal do Irmão La Fuente, superior do Colégio La Salle devido às “posições progressistas” que este vinha tomando no Colégio; Revolta da mini-saia das meninas da EICA; Omissão da fundação da secção local do grupo político LUAR; Recolha e interdição de venda, pela PIDE, do Jornal Hexágono (religiosamente guardado pela D. Maria Cristina Bairrão Oleiro em sua casa); A criação do “Movimento de Solidariedade Estudantil e Renovação cultural”; Atribuição do Prémio de Poesia ao Mário Rui Cordeiro, pelo Suplemento Juvenil do Diário de Lisboa; O cerco ao Tramagal, promovido pela PIDE e GNR no 1º de Maio celebrado na MDF, em 1971/72; A eleição do Sr. Manuel Dias como deputado constituinte.

Se há coisas de que os abrantinos não se podem queixar é de as elites locais não se ocuparem, a títulos diversos, do passado da Cidade. Deverá essa elite, formada e informada, tomar em mãos o trabalho de reconstruir a cronologia, sem omissões e sem erros grosseiros, que ajudem a melhor conhecer o passado de Abrantes?

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