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01 JUL 2017
A verdade original
Por Jornal Abarca

Algo há de esquecido, mas que se revela em várias evidências, de um passado longínquo e comum na humanidade e no seu conhecimento.

As pirâmides do Egito e dos aztecas, por exemplo, em continentes distintos, são disso prova. Alguns textos e ou histórias divinos mantêm pontos de contacto.

O mito de Deucalião e Pirra da antiguidade clássica é um destes. Reza a história que Zeus, após consílio com outros deuses, exposta a sua desilusão sentida pelo ser humano da idade do bronze, decidiu aniquilá-lo e criar uma nova raça. Enviou um dilúvio, mas, avisado por seu pai, Prometeu, Deucalião (o mais justo dos homens) construiu uma nau e nela se salvou com a sua esposa Pirra (a mais virtuosa das mulheres).

Ora, quem não associa este mito ao dilúvio do Génesis, com Noé, a sua família e respetiva arca?

Segundo Fernão Mendes Pinto, in Peregrinação, (publicado em 1614) numa das primeiras de muitas situações de “veniaga” (comércio) ocorridas por terras do Oriente, no século XVI, no contacto com mercadores de Binagorém (Capítulo 166), estes referiram que eram adoradores do Sol, do céu e das estrelas, “porque deles lhes vinham por comunicação santa os bens que possuíam na terra, e que a alma do homem era o fôlego que se acabava na morte do corpo, e depois andava no ar, de mistura com as nuvens, até que se derretia em água e tornava a morrer na terra, assim como antes fizera o corpo.”. Lembra as “vontades” de Saramago em “Memorial do Convento”.

Segundo o mesmo autor, no contacto com mercadores grepos - reino do Bramá (Capítulo 164), um destes grepos contou a seguinte história sagrada do livro da sua religião: havia oitenta e duas mil luas, que descoberta a terra do lago das águas, criara Deus nela um fermoso jardim, em que pusera o primeiro homem a que pôs o nome Adá, com a sua mulher Bazagom, aos quais dera por preceito, para os colocar em jugo de obediência, que não tocassem na fruta de uma árvore que se chamava hisaforão [árvore de fruto proibido, tal como na tradição bíblica], porque essa reservava-a para si, e comendo dela obteriam, por paga desta culpa, o rigor do açoute, castigo da sua justiça, a que perpetuamente ficariam obrigados com todos os mais que descendessem deles. E que vendo o grandeLupantó, serpe tragadora da côncava funda da casa do fumo (demónio?), este preceito a que Deus sujeitara o homem para lhe dar merecimento no Céu, fora ter com a mulher dele, e lhe dissera que comesse e convidasse o seu marido, porque lhe afirmava que depois de comerem ficariam ambos muito mais excelentes em sabedoria do que Deus os criara e livres daquela natureza pesada de que ele os compusera, com o que num só momento os seus corpos entrariam no Céu. E que ouvindo a Bazagom, mulher do Adá, isto que lhe dizia o Lupantó, cobiçando esta excelência que ele lhe prometia, comera da fruta, e fizera também comer o seu marido, e que pelo gosto do triste bocado ficaram logo ambos sujeitos a pena de morte, dor e pobreza.

E vendo Deus a desobediência destes dois primeiros seus criados no mundo, cheio de rigor e justiça, os mandara lançar fora do jardim em que os pusera, e confirmara neles as penalidades com que os ameaçara. Vendo-se Adá ameaçado com o gosto da morte, temendoque fosse ainda mais longe o açoite da divina justiça, passou muitos anos em contínuas lágrimas, pelo que lhe mandou Deus dizer que, se perseverasse no seu arrependimento, quanto estivesse em seu poder, lhe prometia perdão do seu erro.

Poderemos ver aqui espelhado o pecado original, respetivo castigo e redenção presentes na Bíblia?

Talvez, para finalizar, tenha havido uma verdade dita ao homem nos primórdios e esquecida ou deturpada ao longo dos tempos por ser metafórica e passível de interpretação. A torre de Babel é, eventualmente, o mito que o leva a compreender. A multiplicidade e a subjetividade humanas fizeram a disparidade. A personalidade mesquinha fez o resto, e o resto é o mundo que ainda temos.

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