Home »
01 JUL 2017
Fogos (e obrigado!)
Por Jornal Abarca

Uma crónica sobre os incêndios estava anunciada na minha cabeça há vários meses. Não a escrevi antes e arrependo-me. É uma lição que já deveria ter aprendido aos 28 anos: não deixes para amanhã o que podes fazer hoje.

Uma lição que os nossos governantes também já deveriam ter aprendido. São anos a mais sem que se encontrem soluções para o mesmo problema. Os abraços sentidos, as palavras de condolência, os minutos de silêncio e as bandeiras a meia-haste são já uma formalidade para um país que se conformou em ter uma “época de incêndios”, como se falássemos de uma fase do ano obrigatória como a “época balnear” ou “época de saldos”.

Ano após ano as nossas matas ficam por limpar. Soube da tragédia de Pedrógão Grande no próprio dia enquanto viajava de carro e imediatamente alertei as pessoas que iam comigo para notarem nos campos à nossa volta, todos com ervas com mais de um metro, seguramente. Como combater isto? Responsabilizar proprietários, muitos deles sem posses para as limpezas? Colocar militares ou presidiários a fazer este trabalho público? Criar equipas de prevenção que façam este trabalho?

Depois, e sempre, a questão da justiça. Não conheço, e perdoem-me se for ignorância, um castigo exemplar que tenha sido aplicado a um incendiário. Mesmo que exista, não tem a propagação que deveria junto da opinião pública. Muitos criminosos colocam incêndios, são presentes ao juiz e ficam em liberdade. Que mensagem é que isto passa a potenciais incendiários?

Por último, quem faz o nosso ordenamento do território? O que é feito de um ex-ministro que intervalou as suas funções numa empresa de produção de papel para aumentar em 92% a produção de eucaliptos? São perguntas a mais que vão ficando sem resposta.

É hora de apurar responsabilidades e de se tomarem medidas a sério. Não quero mais tragédias desta dimensão. Foram 64 mortes inocentes, mas podia ter sido uma. Já era demais.

Mas no meio de tanta tragédia, há algo inegável no povo português: o seu espírito solidário. Dentro dos nossos defeitos, somos isso. Contribuí junto dos bombeiros como pude mas no dia seguinte, a partir de Torres Novas, cidade onde nasci, gerou-se nas redes sociais um movimento de auxílio aos atingidos por esta tragédia. No espaço de uma semana foram centenas a contribuir com bens de primeira necessidade para pessoas e animais afectados. O que assisti, à distância, encheu-me o coração. Por isso, à Paula Paquete e à Marta Gaveta, promotoras da acção e pessoas com as quais não tenho qualquer tipo de vínculo, o meu obrigado. É este o nosso propósito enquanto cá andamos: fazer o bem a troco de nada.

O meu obrigado, também, aos nossos bombeiros. Não há dinheiro que pague o que fazem e a forma como se dedicam a um trabalho que deveria ter um reconhecimento público condigno. Sei que são heróis quando jamais me imagino a fazer o que fazem.

Para terminar, uma ideia que li e aqui replico: vamos todos visitar as zonas atingidas nos próximos meses. E em vez de chorar sobre a dor, vamos alimentar a esperança daquelas pessoas. Vamos devolver o verde aquela região. Quando visitarem as zonas atingidas, levem uma árvore para plantar. A natureza agradece-nos.

(0) Comentários
Escrever um Comentário
Nome (*)

Email (*) (não será divulgado)

Website

Comentário

Verificação
Autorizo que este comentário seja publicado



Comentários

PUB
crónicas remando
PUB
CONSULTAS ONLINE
Interessa-se pela política local?
 73%     Sim
 27%     Não
( 367 respostas )
© 2011 Jornal Abarca , todos os direitos reservados | Mapa do site | Quem Somos | Estatuto Editorial | Editora | Ficha Técnica | Desenvolvimento e Design