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01 AGO 2017
O tribalismo do futebol
Por Jornal Abarca

Desde há muito que, no continente europeu, o futebol tem um papel central na formatação das subjectividades de acordo com as exigências de uma sociedade concorrencial. A competição futebolística espelha a luta das empresas no mercado, a disputa dos jogadores por um lugar na equipa é uma lição para o trabalhador por conta de outrem, os mecanismos do mérito, centrais no mundo do futebol, são um exemplo para quem exerce as suas funções numa empresa. O futebol, ao longo do século XX, foi, na Europa, um dos elementos mais importantes, ao nível ideológico, na consolidação das revoluções industriais.

 

Desde muito cedo, o futebol esteve associado a um certo tribalismo clubista. No entanto, esse tribalismo não apenas se dissolvia no tribalismo maior do nacionalismo, como tinha uma função de integração das pessoas que, em massa, foram deixando os campos em direcção às cidades. Fornecia-lhes uma identidade e com ela a pertença a uma certa comunidade. Funcionava como uma compensação de uma perda. Poder-se-ia falar de um tribalismo softe compensatório, que, muitas vezes, era caminho para um convívio pacífico com membros de outras tribos.

Nas últimas décadas, porém, tem-se assistido a uma metamorfose do clubismo. Estamos cada vez mais perante um tribalismo harde agressivo, onde o convívio pacífico está a ser substituído por doses crescentes de agressividade e de conflito inter-tribal, por vezes com mortes. A emergência das claques organizadas é um momento importante nessa alteração qualitativa. No entanto, não será o elemento central. Olhemos para o caso português. De imediato se percebe que a comunicação social, com a televisão em destaque, têm um papel essencial na consolidação e disseminação do fenómeno.

Os programas com os representantes dos grandes clubes transformaram-se num foco da doença. Como tem acontecido com outro tipo de programação televisiva, as audiências crescem com a degradação da linguagem, da etiqueta social e com o aumento da agressividade entre os representantes das três principais tribos. A comunicação social, mesmo quando moraliza sobre a violência no futebol, precisa desta nova modalidade de tribalização. É ela que lhe dá audiências e rentabilidade. A consequência disto é que, através do futebol e tomando-o como modelo, se está a impor uma nova forma de vida social, uma vida tribalizada e estruturada no conflito, o qual terá de escalar continuamente para que o espectáculo da informação continue.

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