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01 AGO 2017
Continuar a acreditar
Por Jornal Abarca

Ao longo da última década, período em que tenho exercido funções ao nível do associativismo, primeiramente na Associação de Futebol de Santarém e desde Dezembro passado na sua congénere de Lisboa, muitas foram as batalhas travadas pelo movimento associativo, por vezes contando com a solidariedade e acompanhamento de associações e federações que tutelam outras modalidades que não o futebol, já que estavam em causa interesses e objetivos comuns a alcançar. Recordo a discussão então iniciada em torno da proposta do Regime Jurídico das Federações Desportivas (RJFD), a qual, numa primeira fase, era opinião unânime, não servia os interesses do desporto português, dado que, o seu conteúdo, refletia uma total ingerência do Estado num sector tão particular como o desporto, para além de outras incongruências que revelava. Assistia-se então a uma postura inteiramente autista por parte das entidades governativas do sector, curiosamente abandonada no célebre Fórum Nacional de Futebol, realizado em Santarém no início de 2008 e que juntou cerca de 800 participantes durante dois dias, numa iniciativa só possível porque os dirigentes do futebol amador quiseram mostrar, a quem de direito, o seu trabalho, os seus números, em suma, a sua importância no contexto do futebol nacional. Sem qualquer ponta de sarcasmo, recordo a presença neste fórum do presidente da Real Federação Espanhola de Futebol, Angel Maria Villar, recentemente detido por suspeitas de corrupção. Foi apenas só um entre muitos. Mas voltando ao Fórum, tratou-se de um momento em que foram dados sinais de abertura a um período de diálogo, vindo o mesmo a revelar-se frutífero, permitido encontrar caminhos e soluções para corrigir, leia-se a proposta de RJFD, evitando-se assim aquilo que muitos já classificavam como um “erro histórico”. Porque existiam, tal como hoje acontece, números. E esses, tal como em 2008, continuam a não enganar. São como o algodão, ao contrário do que alguns ainda querem fazer crer, com argumentos falaciosos e de impossível sustentação. Percebeu-se na altura que as associações conseguiram fazer com que a sua voz se ouvisse, na certeza de que só com um ponto de equilíbrio entre todas as partes envolvidas, seria possível encontrar o consenso desejado, sempre na defesa intransigente dos seus legítimos direitos. Para bem do futebol, mas fundamentalmente pelo futuro da prática desportiva no nosso país.

Volvidos quase 10 anos após este momento, o paradigma do futebol nacional e do funcionamento das estruturas que o regulam, mormente no topo da pirâmide, alterou-se significativamente. O dito poder das associações distritais e regionais de futebol está hoje diminuído, por consequência de alterações legislativas que determinaram a assunção de um regime federativo assente no presidencialismo e na concentração num só órgão da capacidade de decisão em matérias tão importantes para o desenvolvimento, mas acima de tudo regulação do futebol amador. Mudaram-se os tempos, alteraram-se vontades. Até por parte de muitos que agora exigem a intervenção imediata das instâncias governativas no futebol nacional. Como se ele não soubesse auto-regular. Mas será que sabe mesmo? Que tem essa capacidade? Por vezes fico na dúvida. Em jeito de conclusão, sou daqueles que ainda acredita num futebol sério, transparente, que é regido por pessoas responsáveis. Que agem, não a coberto de interesses pessoais e manobras sub-reptícias, muitas vezes estas últimas em que é latente a promiscuidade entre o poder político e o desporto.

Acredito nos homens e mulheres que vestem a minha camisola. Com lucidez, mas acima de tudo com a sensatez distante daqueles que se julgam detentores da sabedoria total e que tantas vezes já cometeram erros primários e de difícil explicação. Mas acredito. Continuo a acreditar.

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