Estas férias não fui a Portugal. Férias sem Portugal são uma espécie de não férias, por muito que tentemos enganar a barriga com gastronomias exóticas ou até com paisagens pouco vistas, silêncios em parques e risos de crianças... Férias sem Portugal é como se por um momento a vida nos tivesse despejado num espaço oco e vazio.
Mas durante estas minhas não férias, revi todas as férias que tive de norte a sul de Portugal. Como se a nostalgia fosse afinal um motor refinado capaz de construir o melhor roteiro turístico que nenhum livro, jornal ou revista possa publicar.
Nas férias que eu não tive, revi os passados Junhos de Amarante, lembrei o gosto das francesinhas e os palavrões do Porto, desci mais baixo e recordei as tardes passadas no Baleal em Peniche quando eu em tempos idos apreciava um fantástico carapau à beira mar. Mas como não tenho memória curta gastronómica ou geográfica desci mais e lembrei o sabor dos caracóis temperados com cerveja e as boas companhias de Abrantes. Depois tive pequenos instantes em que a minha memória foi capaz de divagar ainda por Lisboa e pelo Alentejo. Em Lisboa passei dias incríveis a dourar ao sol e a descobrir todos os alfarrabistas quase extintos… e no Alentejo eu nem sentia que dourava ao sol, eu acho que fazia já parte das searas locais logo depois de beber um bom vinho de Borba e de me deixar quase adormecer. Era comum sorver ainda depois uma fantástica açorda de Marisco. Que dias de ouro tive no Alentejo!
O Algarve também faz parte da minha memória de férias, lembro as piadas da minha família parterna, o barulho do mar, as cataplananas, os estrangeiros, os bolos de alcachofra, até fado à beira mar já tive o gosto de ouvir perto de Tavira.
Por isso também este ano e por causa de conter toda essa memória de coisas belas, bateu-me uma revolta maior por causa dos fogos, por causa dos vandalismos de estrangeiros, de ler passo a passo notícias de destruição, pessoas afogadas sem precaução e histórias de abandono do nosso património que de tão rico que é, não se entende que esteja deixado ao abandono.
Depois de escrever e lembrar todas estas férias percebo e fico feliz por isto: Acho que no fim eu nunca deixei nem vou deixar Portugal. Faz parte de mim para sempre. As férias que tive ninguém pode apagar da minha memória.