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02 OCT 2017
Luisinho
Por Jornal Abarca

Todos os meus amigos se declararam livres e independentes do facebook. Credo! Que coisa abominável! Jamais!

E eu senti-me assim meio estranha, esquisita. Avaliei a roupa, se tinha os sapatos iguais um ao outro e calçados nos pés correctos, se sabia para que serviam os talheres... Não me apercebi de qualquer perturbação e continuei nesta janela para a rua do facebook, comentando isto ou aquilo, recebendo informação e florzinhas, pagelas e resultados de jogos...

A pouco e pouco eles vieram à praça central ver quem passava, como se tivessem vergonha ou temessem ser reconhecidos, a olhar para o lado no passinho curto, cofiando o bigode às vezes inexistente, no acanhamento indizível de quem ousa o interdito.

E, absolutamente insólito, surge-me no fim da noite aquela publicação duma excursão em África, como se África fosse ali ao lado. Lembrei-me subitamente que era o aniversário de quem publicava. Mandei parabéns. Não esperava resposta.

Mas a resposta chegou. Seca. Curta. Indiferente.

Não fiquei mais triste. Nem isso esperava.

A vida vai levando os afectos, despenteando a nossa plateia, os companheiros rareando à medida que o horizonte se estreita. Morre-se muito na minha idade. É assim.

Só que às vezes não é assim.

E veio a apoteose. Intensa, comovida. A festa que só o Luisinho sabe armar.

E numa confusão de sentimentos antigos, festas e lágrimas partilhadas, uns passos de dança, um funge, uns mufetes no caminho poeirento, uma noitada de música e cavaqueio, em mensagens escritas pelo messenger, jurámos a nossa amizade eterna até que a morte nos separe.

Luisinho!

Luisinho... especialista em açúcares, internacional na primeira selecção de futebol de Angola, meu cúmplice, meu compadre... meu amigo.

Felizmente o facebook existe!!!!!!

 

“Quando as andorinhas partiam

 

Boca talhada em milagrosas linhas,

A luz aumenta com o seu falar.

 

Esta manhã, um bando de andorinhas

Ia-se embora, atravessava o mar.

 

Chegou-lhes às alturas, pela aragem,

Um adeus suave que ela lhes dissera,

 

- E suspenderam todas a viagem,

Julgando que voltara a Primavera…

Augusto Gil (1873- 1929)

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