Recentemente, o presidente norte-americano apelou ao envolvimento da Índia na guerra do Afeganistão. Não admira. Com uma guerra que já dura há mais de 15 anos, os Estados Unidos estão a chegar a um nível de saturação a todos os níveis: orçamental, militar, social e político. Washington acredita que é tempo de os actores regionais se envolverem num conflito que, apesar de oficialmente estar circunscrito às fronteiras afegãs, acaba por ter impactos a nível regional, seja na segurança ou na estabilidade política da região. Até ao momento, o Paquistão tem sido o grande aliado americano na região e a plataforma logística para as forças armadas americanas. Porém, os Estados Unidos pagam anualmente valores astronómicos ao governo paquistanês para garantir o seu apoio. Ainda assim, parece que não é suficiente, já que a relação entre o Paquistão e os Estados Unidos sempre oscilou entre a desconfiança e o puro interesse. No entanto, um envolvimento mais profundo da Índia na questão afegã, a pedido dos Estados Unidos, vai fragilizar ainda mais a relação com o Paquistão e, ao mesmo tempo, irá certamente reatar as tensões entre estes dois rivais asiáticos que, ainda há pouco tempo, voltaram a esgrimir forças, muito embora sem recurso à violência. Para o Paquistão, o envolvimento da Índia é abrir as portas da região ao inimigo. Na verdade, o governo paquistanês acusa a Índia de, secretamente, apoiar grupos armados afegãos que conduzem ataques armados em solo paquistanês. Já para a Índia, este piscar de olhos americano é uma oportunidade a não perder. A Índia ambiciona há muito um papel mais relevante na Ásia central. Esta região possui muitos dos recursos energéticos, minerais, hídricos e solos férteis de que a Índia precisa. Neste sentido, o Afeganistão é um país chave para a expansão da influência indiana na região, pois é o Estado “corredor” que liga o Médio Oriente à Ásia do Sul e à Ásia central. Ainda assim, este envolvimento indiano poderá trazer sérios riscos, pois poderá avivar incontrolavelmente o conflito com o Paquistão. A própria China poderá igualmente franzir o sobrolho, já que tem grandes interesses políticos e económicos nas região. Veremos no que dará esta luta de gigantes.