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02 OCT 2017
BRUNO, VIEIRA E A LIGA
Por Jornal Abarca

Quando olhamos para as actuações de Bruno de Carvalho (pública) e de Luís Filipe Vieira (subliminar), vem-nos imediatamente à memória dois figurantes da política portuguesa: José Manuel Coelho e José Sócrates.

Mesmo admitindo que Bruno de Carvalho tenha alguma razão nas críticas que faz ao futebol nacional, o certo é que se descredibiliza totalmente e ao clube que representa, ao adoptar o estilo madeirense de José Manuel Coelho. Aliás, a sua última entrevista à televisão do Sporting atingiu picos de ridículo e de anedótico que o próprio José Manuel Coelho seria incapaz de protagonizar. Uma vergonha para todos os sportinguistas e um gozo imenso para os seus adversários que tiveram ali a prova provada de que o presidente do Sporting, como se diz no Alentejo, "não junta o gado todo".

Pelo contrário, Luís Filipe Vieira, adoptando o modelo socrático, conseguiu aquilo que Sócrates não conseguiu, ou seja, infiltrar todos os poderes, designadamente a comunicação social. E da mesma forma que Pedroto anunciara o programa do FC Porto que desaguou no Apito Dourado quando disse que, em Portugal, mais importante do que contratar jogadores era controlar o Conselho de Arbitragem, também Luís Filipe Vieira anunciou publicamente o programa do SL Benfica para regressar às vitórias quando disse que mais importante do que contratar jogadores era colocar os homens certos nos lugares certos.

E os mails que vão sendo agora revelados a conta-gotas pelo FC Porto (e que eu não duvido de que são verdadeiros até pela reacção dos visados) revelam precisamente o sucesso da estratégia de Vieira, tendo criado uma teia de cumplicidades que envolve a imprensa desportiva e, pelos vistos, alguns clubes. Até o jornal A Bola, que foi um jornal de referência do jornalismo desportivo nacional, acabou, pelos vistos, por se deixar enredar nesta teia de servir “o que vende”, em vez de continuar a servir o jornalismo isento e imparcial.

Com a divulgação dos mails, o SL Benfica, como toda a gente já percebeu, aposta todas as fichas na declaração, por parte do tribunal, da ilicitude na forma como foram obtidos. Agora o que é estranho é que a Liga fique a aguardar pacientemente pela decisão judicial.

Está-se aqui a confundir duas coisas diferentes. O facto de um tribunal absolver um pedófilo por considerar que o meio de prova foi obtido de forma ilícita, não obriga o pai da menor a permitir que esta continue a conviver com o pedófilo. E o que se aplica ao pai, aplica-se à Liga: os clubes não podem aceitar disputar uma competição com um clube que sabem que faz batota, independentemente de ser lícita ou ilícita a forma como souberam. A não ser que haja clubes que, na sua miséria, se comportam como certos pais que vendem as filhas menores ao vizinho rico para receber uns trocos.

A DEMOCRACIA

Numa das primeiras consultas democráticas de que há memória, Pôncio Pilatos pediu ao povo para escolher entre um ladrão (Barrabás) e um homem justo (Jesus Cristo). E quem é que o povo escolheu?

A democracia portuguesa tem também sido reveladora desta estranha atracção do voto popular pelas pessoas menos escrupulosas. O ladrão é sempre mais sedutor do que o homem justo e recolhe, quase sempre, mais votos.

Isto não é suficiente, obviamente, para pormos em causa a democracia até porque, como dizia Churchill, ainda não se descobriu melhor: «A democracia é o pior sistema político, exceptuando todos os outros». Além disso, se, entre um ladrão e um homem justo, o povo elege o ladrão, também não se pode depois queixar de ser governado por ele.

Como dizia Bernard Shaw, na melhor definição de democracia que conheço, «a democracia é um mecanismo que garante que nunca seremos governados melhor do que aquilo que merecemos.» E, efectivamente, até agora, só temos colhido o que plantámos.

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