Com todos os males  que o calendário gregoriano possa ter, numa coisa confesso o meu apreço. O ano começava em março,  tempo de renovação, do nascer de um novo ciclo de vida.

Por razões que não vou enumerar, optou-se por janeiro ser o primeiro mês do ano, logo novembro (designação derivada de nove) e dezembro (de dez)  serem o terminus.

Meses normalmente nostálgicos e invernosos, em que a folhagem do amarelo ou vermelho atapeta passeios e campos, despedindo-se da vida. Só o tímido verdejar da terra que rebenta com a chuva transmite a esperança de nova vida.

Sei que dezembro é mês de Natal, que as ruas das cidades se iluminam e que o apoio aos esquecidos pela vida têm particular atenção. A vida que deles se esqueceu durante 365 dias... Papa Francisco considerou recentemente que as festas de Natal “são uma farsa”.

Sê-lo-ão na maioria dos casos. Quero acreditar que a reunião à mesa da consoada, vale bem mais do que os grandes embrulhos. Sinal dos tempos... Cada vez o Natal começa mais cedo, mas não é por ser “sempre que um homem quiser”, é antes porque as leis do mercado assim o impõem.

Mas de Natal falaremos na próxima edição. Tal como no ano transacto, publicamos dos números em dezembro. O segundo sairá dia 18.

Entretanto, sobre novembro há um poema de Alexandre O’’Neill, poeta que faz parte da história de Constância, que exalta e contraria o mês dos defuntos e também do deus Baco, para atenuar a nostalgia,-

“Os Amantes de Novembro

Ruas e ruas dos amantes
Sem um quarto para o amor
Amantes são sempre extravagantes
E ao frio também faz calor

Pobres amantes escorraçados
Dum tempo sem amor nenhum
Coitados tão engalfinhados
Que sendo dois parecem um

De pé imóveis transportados
Como uma estátua erguida num
Jardim votado ao abandono
De amor juncado e de outono”.

Alexandre O’Neill,in ‘No Reino da Dinamarca’