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01 DEZ 2017
As minhas amigas que trocaram de cidade
Por Jornal Abarca

A minha amiga Nelinha, natural de Tramagal mas residente em Lisboa, por razões profissionais, faz a A1, Lisboa–Coimbra, Coimbra -Lisboa, uma /duas vezes por semana .

Liga-me, frequentemente, na viagem de regresso, por volta das 19h quando vem a passar a saída para Torres Novas. A semana passada ligou- me, incrédula, porque tinha ouvido na RAL (um hábito que nos ficou) a crónica da Ana Margarida (um tratamento que nos ficou) sobre o novo horário da Assembleia Municipal. É que esta amiga tem um hábito (este só dela) “quando chego à zona de Fátima ponho na RAL para escutar notícias da zona”.

O espanto da Manuela d´Almeida teve na sua origem a crónica que escutou da Margarida Togtema sobre o horário que passava a vigorar na realização da Assembleia Municipal (14horas) na cidade de Abrantes. Perguntava-me: “e as pessoas que tiverem interesse em assistir? Com este horário não têm hipótese…” Ao que respondi “O objectivo é esse, não assistirem”.

Esta minha introdução quase parece uma redacção de escolinha primária – sim, parece, porque devidamente esclarecida não escrevo “de acordo com o novo acordo” (que não existe), mas faço-o, intencionalmente, de forma simples e objectiva com linguagem que todos percebam. Aliás, já expliquei neste espaço, que quando rabisco estas palavras a minha preocupação é chegar à escolaridade de todos. Sei que o tenho conseguido.

Transmitir a ideia que existe nos portugueses uma apatia na sua participação cívica dá jeito. Ou usando linguagem da moda, esta é uma ideia tóxica que serve interesses.

James Fiskin, professor de Ciência Política e Comunicação, concluiu num dos seus muitos estudos, que 70% das pessoas mudam de opinião quando são devidamente informadas e participam nos processos deliberativos. Este é apenas um dos exemplos entre muitos estudos/trabalhos que demonstram que quando damos ferramentas e tempo aos cidadãos para reflectirem, debaterem e participarem a opinião emergente é diferente da originária.

Uma cidade que não tem interesse que os seus munícipes assistam às Assembleias Municipais vai ainda mais longe. Impede a ideia. Impede a opinião. Logo nem se coloca este processo evolutivo.

“Matam-se dois coelhos com uma só cajadada”.

Obrigada à Ana Margarida, nascida em Lisboa e a viver no concelho de Abrantes, que conseguiu na sua crónica semanal chamar a atenção da Nelinha que nasceu em Tramagal e agora vive em Lisboa, no final de um dia de trabalho e ainda com 130 Km pela frente, ficar indignada com a prepotência de uma maioria democrática que “salva a honra pública” escutando o povo nos minutos finais.

Não sei quantas pessoas escutaram a Ana Margarida nem quantas lerão estas palavras. O número não terá qualquer interesse. Mas registe-se, pelo menos, três cidadãs para quem a democracia é na sua essência participativa. Três cidadãs que também sabem que a democracia acarreta os riscos das maiorias.

Quantidade nunca foi sinónimo de qualidade, nem se pense que maiorias traduzem mentes críticas,  sobretudo em meios pequenos que se vive numa espécie de economia de troca. 

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