“Jogos Saudáveis”

Se durante muitos anos a questão da formação dos dirigentes desportivos foi tema tabu, remetido sucessivamente, por quem tinha a responsabilidade de a promover, para as calendas gregas, o paradigma quanto a esta matéria parece ter entrado agora num momento de viragem. Talvez, quem sabe, alguém tenha sido acometido por um assomo de consciência e despertado para uma realidade há muito desejada. Isto, pese embora a resistência que alguns ainda manifestam quanto ao adquirir conhecimento. Como não me canso de repetir, ainda existem muitos dirigentes sabichões. Daqueles que sabem tudo, quando, na realidade, muitos deles, não passam de aprendizes de feiticeiro.

Mas o que lá vai lá vai, o importante é o futuro e o comboio só apanha quem quer. Felizmente são muitos. Para bem do dirigismo mas acima de tudo do futebol. Com a particularidade de serem os próprios dirigentes dos clubes a alertarem para a necessidade da realização de acções que visem a melhoria das suas capacidades para o desempenho das funções que lhes estão adstritas.

Vem isto a propósito do pontapé de saída dado pela Federação Portuguesa de Futebol na formação de dirigentes desportivos, caminho que começa agora a ser trilhado igualmente pelas associações de futebol distritais e regionais.

Como é do conhecimento, depois de uma década enquanto dirigente da Associação de Futebol de Santarém, quis o destino que desde Dezembro do ano transacto assumisse funções como director da sua congénere de Lisboa. Uma realidade diametralmente oposta tendo em conta aquilo que é a dimensão de uma e outra, não só ao nível de recursos mas fundamentalmente no que diz respeito ao número de clubes filiados e em actividade e por consequência no número de praticantes. É como comparar o que não tem comparação.

E em bora hora, também a Associação de Futebol de Lisboa (AFL) não podia deixar de lado uma área tão importante como é a formação de dirigentes. Nesse sentido, colocou à consideração da Federação Portuguesa de Futebol o projecto denominado “Jogos Saudáveis”, o qual mereceu sem reservas a aprovação da entidade federativa. O mesmo tem como destinatários os dirigentes dos clubes filiados na AFL e tem vindo a decorrer de forma descentralizada por vários locais do distrito de Lisboa desde o passado mês de Setembro, prevendo-se para Janeiro próximo a realização da sessão de encerramento desta primeira edição.

Foi curioso perceber, aquando da realização das primeiras sessões, algum cepticismo e dúvidas por parte da maioria dos formandos quanto há utilidade da frequência desta acção. Se para alguns não era mais do que um cumprimento de uma formalidade que os vai habilitar para o desempenho da função do Ponto de Contacto de Segurança, evitando assim aos seus clubes a requisição de policiamento para os seus jogos, na presente época nas competições de futsal e futebol feminino, situação que se vai alargar na próxima temporada aos escalões mais baixos dos escalões de formação, para outros era notória no imediato a vontade de apreender algo mais.

E o que é facto é que os segundos acabaram por arrastar os primeiros e hoje o sucesso desta acção traduz-se bem no empenhamento que todos os formando colocam em cada uma das sessões ministradas.

Sem querer meter a foice em seara alheira, o exemplo dado agora pelos dirigentes dos clubes lisboetas pode, ou melhor, deve, ser seguido por toda a classe dirigente do nosso país. Da amadora, obviamente. Porque dos profissionais a história é rezada de outra maneira.

E enquanto o estatuto do dirigente desportivo continua sem sair da gaveta, pode ser que este tipo de formação contribua para o seu reconhecimento. Havemos de lá chegar!