Existe momento mais incrível do que aquele em que a neve começa a caír e nós estamos a ver de uma janela as pessoas, os carros, as ruas, tudo ficar branco? Talvez.
Existe momento mais incrível do que aquele em que as crianças não podem esperar mais para abrir os presentes e nós também não? Existe. O momento a seguir... O momento em que as crianças se disputam ferozmente pelo melhor presente, pela coisa mais garrida ou ainda mais absurda.
Assim é o Natal.
Foi há um ano que começei a escrever para a abarcae a minha primeira crónica incluíu uma espécie de análise sobre a eleição de Trump.
Este Natal nem quero acreditar que vou ter de manter a tradição. Vou ter de expor uma criança grande muito tranquina que brinca com todos nós como se fossemos brinquedos de última geração estilo russo ou como se fossemos uma espécie de “nem sei que brinquedo é este mas não importa.”
É quase simbólico, irónico, sádico, o facto de Trump querer reconhecer, precisamente no último mês do ano, Jerusalém como capital de Israel. Existe qualquer coisa de apocalíptico nesse desejo infantil. É como se por um momento a criança mais traquina se estivesse a preparar para secretamente encher a estrela de Natal com bombinhas carnavalescas daquelas de muito mau gosto e mal cheirosas. É como se por um momento fossemos todos apanhados por essa criança americana, ou como se de repente estivessemos todos dentro de um vídeo dos Monty Phyton, onde judeus, cristãos, árabes tivessemos em comum ter que conviver com essa criança obscena no dia de Natal e assistir ao gesto de pegar na estrela de Israel, a elevar-se sobre todos nós e todos ao mesmo tempo (independentemente da língua, cultura ou raça) pensarmos o mesmo: “ O que é isto? O que significa? O que vai acontecer com a estrela? Onde vai ser posta?”
E assim é o Natal.