"Não, Tejo
não és tu que em mim te vês
- sou eu que em ti me vejo”
(“O Tejo corre no Tejo” in “Feira Cabisbaixa”, de Alexandre O’Neil)

Um manto de terra arada sobre as águas do Tejo, poderia ser o começo de uma história de terror, de um qualquer cineasta louco, mas não é...

Onde estarão as tágides de Camões? os meninos adormecidos em berços improvisados nas proas de picaretos ou varinos, de botes de água acima ou bateiras do cagaréus? os pescadores de beira rio? o manto de água azul reflectindo às cores do firmamento?

Sobre o Tejo, como diz O´Neill, “ou eu que em ti me vejo”.

Não quero ser moralista, mas os continuados crimes ambientais são reflexo de uma sociedade descartável, em contínuos cliques.

Acredito (?) no equilíbrio universal. Acredito (?) na reposição de equilíbrios e acredito que o ventre da terra se revolta quando o tentam dominar.

Dia após dia, mês após mês, ano após anos... Cargas de lixos acumulam-se nas albufeiras, nos leitos dos rios e um dia, há sempre um dia, em que o mais fundo vem à tona e aos olhos de todos espelha o que “sou eu”.

Governantes tomam posições... Retiram amostras para análise, carregam camiões de espuma para etar próximas (Vila Nova da Barquinha e Gavião, segundo nota de imprensa do Ministério do Ambiente), determinam a redução de efluentes da Celtejo e mais duas unidades estão sob investigação. O ministro fala em matéria orgânica acumulado no fundo das albufeiras que um qualquer processo químico fez subir à superfície.

Quantos anos demorou a acumulação? Quantos anos demorará a sua absorção?

Até lá...

“Não, Tejo
não és tu que em mim te vês
- sou eu que em ti me vejo”.