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01 FEV 2018
UM PAÍS SEM REMÉDIO
Por Jornal Abarca

Não se pode falar em interior num país com 200 Km de profundidade e com a nossa rede de auto-estradas. Este é o principal argumento usado pelos comentadores residentes em Lisboa sempre que alguém fala em interior. Estou absolutamente de acordo. Com efeito, Portugal é uma faixa litoral tão estreita, tão pequena e tão pouco populosa que se assemelha mais a uma pequena cidade do que a um país.

Não é este o problema. Bem pelo contrário, é uma enorme vantagem. O problema português é não aproveitar esta vantagem e permitir que tudo esteja concentrado e amontoado num pequeno troço da avenida marginal.

Analisemos duas recentes medidas do Governo: a transferência para o Porto do Infarmed e mais um pacote de medidas de incentivo à fixação de população no interior. Quanto ao novo pacote de medidas para a fixação de população no interior (mais um), vai ter inevitavelmente o mesmo resultado do que os anteriores. O interior, neste momento, não necessita de medidas para fixar população. Não se pode fixar o que não existe, a não ser que o Governo esteja a pensar na criação de mais uns lares de idosos. Mas até os lares de idosos já são de mais, neste momento… O que o interior precisa é da transferência de população jovem e qualificada de Lisboa para o interior. E isso só se consegue com a deslocalização de serviços como o Infarmed, universidades, direcções-gerais, ministérios, etc. etc.

Portugal podia e devia, de facto, ser gerido como uma pequena cidade, deixando a avenida marginal para o sector comercial e empresarial e o interior da cidade para os serviços. E cada bairro da cidade podia ter uma especialização. A título de exemplo: o bairro de Trás-os Montes podia acolher, por exemplo, os ministérios, direcções-gerais, etc. relacionados com a agricultura e florestas; o bairro do Alentejo podia acolher os ministérios e as direcções-gerais, relacionadas com a Defesa, assim como os quartéis militares situados em Lisboa, o Hospital Militar e as cúpulas do Exército, etc.; o bairro das Beiras podia acolher as principais universidades públicas de Lisboa, o ministério da Educação e respectivas direcções-gerais; o bairro do Algarve o Turismo; etc. etc.

Mas basta assistir à reacção dos trabalhadores do Infarmed (e a deslocalização é apenas na avenida marginal, imagine-se se fosse para Castelo Branco ou para Guarda) e dos políticos portugueses, inclusivamente o PCP, para perceber que qualquer reforma do Estado que passe pelo repovoamento do território conta com a oposição firme de todos os partidos portugueses porque ninguém quer sair de Lisboa. As grandes reformas que todos defendem, inclusive a regionalização, estão ao serviço do modelo de desenvolvimento da Cidade Estado e não são mais do que a criação de tachos para os amigos que já lá vivem, sem que haja qualquer transferência de pessoas de Lisboa para o interior. Pelo contrário, Lisboa vai continuar a ser a foz onde vão desaguar todos os rios, ribeiros e riachos portugueses.

A PUTA E OS SEUS FILHOS

Não houve um único político ou comentador nacional (leia-se, residente em Lisboa) que, apesar de reconhecerem que o INFARMED e outros institutos semelhantes não deveriam estar localizados em Lisboa, não se insurgisse com a sua transferência para o Porto, preocupados com a perturbação que isso iria implicar na vida dos seus funcionários.

No entanto, não houve um único político ou comentador nacional (leia-se, residentes em Lisboa) que se tivesse preocupado com o destino dos milhares de funcionários que tiveram de deixar as suas residências no interior do país na sequência da reforma do mapa judiciário, do encerramento dos centros de saúde, escolas, dos serviços de finanças, etc. etc..

Este comportamento dos nossos políticos e comentadores nacionais (leia-se, residentes em Lisboa) só pode ter uma leitura: para esta gente, quem vive no interior e no sul do país é a PUTA e os políticos e comentadores nacionais são os seus filhos.

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