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01 FEV 2018
Quebrar ciclos
Por Jornal Abarca

Estamos em Janeiro é o mês dos saldos que entusiasmo!

De Bruxelas a Lisboa, de Abrantes a Amarante, todas as minhas leitoras sabem que chegou o mês

dos saldos. Até as leitoras mais vaidosas de Vila Nova da Barquinha também dão um pulo até à

metrópole ou cidade mais próxima para ver os saldos de grandes empresas em shoppingsgigantes e agitados.

Mas quanto será que custa o barato? Será que o barato é de facto humanamente, economicamente e ambientalmente possível de ser pago? As grandes lojas da Primark, C&A apresentam roupas já a baixo preços mas com os saldos é a loucura massiva. Pergunto-me quantas horas custou à mão de obra barata de Portugal, da Turquia e de Bangladesh para tecer ou fazer mais um pedaço de têxtil, quantas horas da vida de um ser humano são necessárias para fazer as delícias mundanas de outros?

Enquanto continuarmos a comprar o barato vamos continuar a financiar todos o investimento em mão de obra barata, enquanto não nos erguermos como consumidores conscientes comprarmos menos e produtos de qualidade, vamos continuar a dar força aos empresários que precisam de sugar a mão-de-obra barata. Está na hora de termos coragem e quebrarmos ciclos.

Claro que nem todas as pessoas tem essa opção de comprar produtos mais caros de qualidade ou até de mesmo de poder comprar. Mas a maioria que tem a capacidade para comprar devia pensar antes de o fazer.  Enquanto fazia compras na Avenida Louise em Bruxelas e falava com uma amiga portuguesa foi curioso o que me disse sobre os saldos: «Quando os saldos chegam, não me importo de pagar a crédito ou ficar com a conta no negativo» - esta observação fez-me pensar de como é este fenómeno de colectividades em países como Portugal, Espanha, Bélgica e afins pagar os défices negativos que parecem nunca ser pagos até ao fim e parecem fazer nações caír aos pés de lobbies e de multinacionais.

São muito populares aqui e começam a ser em Portugal também as lojas de segunda mão. Muitas lojas de segunda mão começam inclusive a ser elevadas ao estatuto de chique. Mas quando a loja não é retro nem vintage, a maioria dos consumidores têm esta idea que é a segunda mão, como se em segunda mão tivesse algum sentido pejorativo. Pergunto-me o que significa agora a segunda mão? A segunda mão afinal é a nossa que pagamos menos por uma roupa feita em Bangladesh na Indía, que usamos roupa de materiais de qualidade inferior, e que ao entramos neste ciclo só estamos a contribuir e dar ainda mais razões aos nossos próprios chefes para nos explorarem… O mais ridículo nesta história de ciclo é o retorno da hipocrisia, muitas destas companhias começam também agora por utilizar materiais recicláveis ou materiais antigos já existentes a baixo custo para reduzirem o impacto ambiental. Mais uma vez me pergunto: o que é afinal a segunda mão se em primeira mão já estamos a comprar um material reciclado, talvez antigo, usado como campanha publicitária de «amigo de ambiente», um produto que afinal passou por diferentes companhias a retalho, foi processado em armazeéns a nível global e exposto nas nossas vitrines. Será que andamos todos a viver uma vida de segunda mão e queremos fechar os olhos à realidade? Será que a verdade é que queremos continuar a pagar pela ilusão de termos algo novo, nunca usado e único? Talvez se queremos atingir essa autenticidade está na hora de quebrar ciclos.

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