Um apartamento na zona nobre da capital ou um T5 num condomínio de luxo algures na marginal. Para relaxar, aquele monte alentejano, com um horizonte que nunca mais acaba, mas com uma piscina brutal, entre o rio e o sobreiro centenário. Se isso não for suficiente, há ainda a vivenda com a vista mais deslumbrante de todas, onde não se percebe onde é que o céu e o mar se encontram.

Há quem tenha nascido em berço de ouro e herdado estes mimos imobiliários. Há quem os aprecie, sem os contemplar. E há o comum dos mortais que passa por cada um deles e imagina como seria fácil ser feliz ali. Fácil demais.

O sol até pode nascer para todos, mas nem todos o vivem da mesma maneira. E, sinceramente, ainda bem. Não é utopia ou ingenuidade afirmar ou acreditar numa coisa destas. A vida e a experiência ensinam-nos mais do que pedimos. Sabe bem o conforto e deve ser incrível não precisar de saber quanto custa um litro de leite ou qual o dia em que a gasolina é mais barata.

Mas também deve ser frustrante não ter que trabalhar arduamente para alugar o primeiro T0 ou comprar a pronto aquele Renault 5 que ninguém quer. Há vidas que merecem ser protagonistas num filme de autor, daqueles com poucos recursos mas com história, sabem? Aqueles que fazem pensar, mas que não enchem salas de cinema.

Poucos estão preparados para isso. Nada como aqueles efeitos especiais, com aquele elenco de luxo que faz deslumbrar o tal comum mortal que parece viver alienado do quotidiano. É tão mais fácil sonhar com uma vida boa do que fazer da sua vida a melhor possível...