Todos os anos pela Primavera, é o título de um livro de Sttau Monteiro no qual o tema da liberdade cerceada pelo Estado Novo se fazia sentir no quotidiano de um cidadão amante da liberdade de expressão de pensamento. Trago à colação este livro a esta crónica de cantar parabéns ao jornal abarca, porque o seu aniversário ocorre na estação primaveril, de rebento de seivas, de aparecimento de flores, de rejuvenescimento do revestimento vegetal em toda a sua latitude, da alegria nos campos por voltarem a viver.
O abarca apesar de todas as inclemências seja da seca da cidadania em múltiplos ramos populacionais, seja da anemia do mercado publicitário, seja derivado do preconceito bacoco relativamente aos jornais de matriz local por parte de quem os devia (deve) potenciar, revive não na Primavera, sim todos os meses no momento de parir novo número, tal como a barca benfazeja de outrora carreava passageiros e mercadorias entre as margens do grande rio – o Tejo – tão ameaçado devido à maldade acrescida da incúria dos Homens e Mulheres ao longo das últimas décadas.
O mensário abarcaé, essencialmente, obra de uma Mulher, esta Senhora pegou e colocou no colo o jornal ainda a gatinhar, aleitou-o, embalou-o, mimou-o e continuará a amamentá-lo. Assim, tem que ser numa sociedade na qual as matrizes locais estão a ser submersas dada a impetuosidade das ondas dos mexericos nas redes sociais e verbosidades televisivas.
Essa mulher tem nome, chama-se Margarida Trincão, não é a Margarida mefistofélica, nem nenhuma Margarida florista dada a palavreados inusitados, sem conteúdo, é isso sim exemplo de Mulher de todos os dias serem dela, excepto o dito dia de Março propriedade dos chavões do politicamente correcto, dos jantares envernizados, postiços, comerciais da celebração de uma data porque as mulheres ofereceram ao homem a sua representação quantas vezes escoradas no serem dominadas económica e socialmente. A astuta, ilustrada, fera e dura Margarida de Navarra é a prova provada de uma mulher determinada, evoluída, capaz de enfrentar dogmas, exílio e amarguras sem perder a face.
A ânima mãe de o abarcade vez em quando telefona-me, sempre bem-disposta, interessada em comentar um qualquer ponto focal de incidência nacional ou regional. Há dias ligou-me estava eu a finalizar excêntrica refeição (dada a raridade das aves) constituída por galinholas (cinco) oferta de amigos meus, os quais prodigalizaram hossanas e louvores à Mestra cozinheira Dona Arsénia que pontifica nos fogões da Casa Noémia situada no centro do Rio de Moinhos, exultante de imediato a inclui no segredo amplamente conhecido da exuberância da Dona Fernanda que comunga do mesmo querer de Margarida Trincão, de não se atemorizar ante dificuldades ou atropelos arreliadores do seu quotidiano.
Porque trago à colação estes pormenores? Porque o abarcaé um órgão de informação que dedica atenção às pessoas afastadas dos holofotes do bizarro, dos bonito-bonitão bacoco, dos vestidos curtos em corpos fornidos de um qualquer concurso de belezas efémeras e bagatelas de circunstância.
O pulsar de o abarcaé um bater de coração apaixonado que atira Margaria Trincão como impulso de um lado para o outro no auto compromisso de negar a possibilidade de parar. E, a partir daí coloca nas mãos dos anunciantes e dos leitores a perenidade do jornal, ela esfalfa-se, os anunciantes têm de perceber a amplitude do projecto informativo como formador de opiniões e gostos já que a informação é vertida em cachão diariamente, os leitores terão de entender o valor dessa mesma opinião na defesa da cidadania, da diversidade (que se verifica em cada número), da sua valia no combate às assimetrias existentes no território da Comunidade do Médio-Tejo, no sentido de exaltarmos o orgulho de sermos nós próprios, o orgulho no terrunho onde vivemos os dias de regozijo, as semanas cinzentas atravessadas por angústias, desgostos, doenças e adversidades. Enfim…é a Vida.
Parabéns e longa vida ao aniversariante. Parabéns Margarida Trincão!
