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01 ABR 2018
Em Alcanena, ao primeiro teste, a República vence!
Por Jornal Abarca

Faz em Junho próximo 60 anos que Humberto Delgado desafiara a ditadura ao ir até ao fim nas eleições presidenciais. O «terramoto delgadista», utilizando a expressão de Fernando Rosas, incendiara Portugal de lés a lés naquele ano de 1958 e deixara marcas indeléveis quer na sociedade portuguesa quer nos processos subsequentes nos meandros oposicionistas.

Era a primeira vez que o candidato da oposição não desistia antes do sufrágio acontecera com Norton de Matos (1949) e Quintão Meireles (1951). Até à data, a experiência eleitoral da oposição alcanenense baseava-se nas presidenciais, porque a oposição distrital, até 1961, nunca fora capaz de apresentar listas às eleições para deputados no círculo.

O grupo próximo dos comunistas e alguns militantes do partido eram apoiantes da candidatura de Arlindo Vicente, particularmente a família Flora Bento, nas pessoas de Esmeralda Flora Bento e José Almeida e Silva (Zé da Loja), proprietários da taberna «Cova Funda», abrigo de muitos militantes do PCP na clandestinidade e espaço privilegiado para as sessões das rádios Moscovo e BBC. Segundo informação da PIDE, Jorge Manuel Francisco Nobre e Joaquim Henriques Curates colaram cartazes de Vicente.

A candidatura de Humberto Delgado era representada pelo «chefe da oposição» Joaquim António Ferreira Júnior (proprietário do Café Avis, mais elitista, mas privilegiado pela leitura do República) – promovido àquele posto desde o falecimento de António Augusto Louro –, pelo seu irmão José António, por Joaquim Coelho Ladeiras (filho) e por Manuel Francisco Inácio. Joaquim Ferreira fora ainda ao Governo Civil copiar os cadernos eleitorais e mandou distribuir as listas.

Após a desistência de Arlindo Vicente, já em clima de unidade, verifica-se igualmente movimentos oposicionistas nas freguesias. Em Vila Moreira, reduto republicano mais importante do concelho, Armindo da Silva Fernandes é o mais activo, secundado por Fernando Ribeiro, José Joaquim Bandoim, António Cardoso Lopes da Silva, Sebastião José Alves Lopes, António dos Santos Alves Lopes e Joaquim Raposo Alves Lopes. Em Malhou, Manuel Alves Pereira (Manuel Doutor), Hélder Roque, Félix Gomes da Cunha, António Martinho do Rosário, José Porfírio Gaivoto e Lourenço Lopes Vieira.

O resultado final seria de clara vitória de Humberto Delgado em Alcanena: 1 963 votos (72,4%) sobre os 748 (27,6%) de Américo Tomás. O não falseamento dos resultados finais custou ao presidente da Câmara da altura, José Dias Patrício Mota, a renúncia forçada às suas funções, em Janeiro de 1959.

Devido à burla eleitoral verificam-se greves por todo o país. O Avante! clandestino (n.º 261, 1.ª Quinzena de Agosto de 1958) noticia que em Alcanena os operários de duas pequenas fábricas de curtumes, Policarpo Ferreira e outra, fizeram paralisações parciais. Num desses dias, Norberto Galveias Leitão, residente em São Pedro, Alcanena, é preso pela GNR e recolhe a Caxias, sendo condenado, em 1959, a 7 meses de cadeia, igual tempo de multa à razão de 10$00 por dia, à suspensão dos direitos políticos por 3 anos e no mínimo de imposto de justiça, sendo-lhe, no entanto, suspensa a execução da pena e dos direitos políticos por espaço de 3 anos.

Em Alcanena, ao primeiro teste, a República vence!

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