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01 MAI 2018
EMOÇÕES EM ABRIL
Por Jornal Abarca

Por volta do dia 25 de Abril emociono-me sempre. E não é uma emoção qualquer. É um sentir que vem de dentro, de bem fundo de mim. E o caso não é para menos.

Por volta desse dia, seja porque há conversas, imagens, leituras, sou remetido de supetão para o tempo da minha juventude - e não só porque são momentos de que, a partir de uma certa idade, todos temos algum tipo de saudade, mas, sobretudo, porque, por esses dias, de forma intensa se misturaram sentimentos com acontecimentos históricos, com saudades de pessoas e lugares e, não menos importante, há um olhar sobre o passado em relação ao qual nunca se coloca a questão de saber “se se faria tudo da mesma forma”.

Às vezes, cada vez mais, ouço pessoas que contestam os caminhos que Portugal seguiu depois de 1974. Reajo sempre mal. Não que não existam situações (talvez até demais,...) que não sejam criticáveis ou nos deixem “à beira de um ataque de nervos” (cada vez mais frequentes,...).

Aliás o que jornais e televisões nos mostram por estes dias na exploração de (tudo indica que assim seja) macro casos de corrupção e compradios diversos, pode levar muita gente a duvidar se foram estes os caminhos que se perspectivavam em 1974. Seguramente que não.

Uma coisa é certa, o que temos hoje, em termos gerais e exclusivamente em termos gerais, não é comparável ao que existia, em Portugal, antes de 1974. Só quem andava distraído (e era muita gente – os mesmos de hoje?) ou tinha interesses específicos que foram beliscados (como inevitavelmente aconteceria num processo histórico de rotura, como o que iria ter lugar nesse período) é que poderá olhar o país atávico do passado, como algo comparável ao país que temos agora.

É claro que ter saudades do passado é legítimo. E até achar que muita coisa do passado era melhor do que muita coisa do presente, também é legítimo. E, se quisermos ser rigorosos, havia muita coisa que, no passado, era melhor do que muita coisa no presente. Mas isso não é uma particularidade do confronto entre o passado que vivemos e o presente em que estamos ainda, mas sim uma inevitabilidade histórica: a evolução social, aquilo que chamamos o Progresso, cria-se por sobreposições de paradigmas de todo o tipo. As sociedades mudam e com essa mudança, também as pessoas mudam.

No nosso tempo, hoje, por exemplo, é a tecnologia, em sentido lato, aquilo que está a mudar os comportamentos, em sociedade: na família, na escola, nos locais de trabalho. No Portugal contemporâneo, antes de 1974, esse papel de grande acelerador das mudanças sociais, também já esteve reservado a dois paradigmas - hoje praticamente moribundos: primeiro a rádio e depois a televisão que fizeram com que “os lugares onde as pessoas viviam, passassem a ser espaços mais alargados” foram os grandes agentes de mudança social em Portugal

Por isso, a comparação que muitas pessoas pretendem fazer entre o passado (antes de 1974) e o regime que se seguiu, não faz muito sentido. Desde logo porque é impossível sabermos onde estaríamos hoje se a evolução em Portugal tivesse sido menos brusca e mais linear, como, por exemplo, sucedeu em Espanha (onde problemas muito semelhantes ao que estão agora a acontecer em Portugal ocorreram muito antes).

Assim sendo, e apesar do contexto em que nos encontramos hoje em dia: em que se mostra muito difícil, se não mesmo impossível, argumentar contra as visões que são defensores de “um regresso ao passado”, com outros argumentos além de que a “democracia ainda é o menos mau de todos os regimes políticos” (uma tautologia, que como todas as tautologias não serve para outra coisa que não a explicação do seu funcionamento interno).

Enfim, num Portugal que está indiscutivelmente cinzento porquê emocionar-me quando se aproxima mais um dia 25A?

A razão é simples, porque há uma coisa que, essa sim, que se sobrepõe a tudo o que é mau e até pode ficar pior e que é a Liberdade. Se a troca fosse: um país corrupto, por um país impoluto; maus políticos, por políticos bondosos; o amiguismo, pelo mérito; professores inquietos, por professores obedientes; o escrutínio público, por um secretismo forçado, tudo isto e muito mais, à custa da Liberdade que temos hoje, esse sim, é que seria um caminho perigoso, que nos traria novos sobressaltos. Assim, só há uma coisa que me emociona por estes dias 25ºS: a Liberdade e não mais.

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