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01 MAI 2018
A História como arma de fazer política
(Parte 1)
Por Jornal Abarca

Parece que a agenda do Observador, e particularmente de Rui Ramos (RR), não se fica pela transformação do PSD num mero Bloco de Esquerda da direita; vai muito além, aliás, das crónicas e opiniões políticas sobre a actualidade daquele historiador. Já não é a primeira vez que RR lança «especiais» para aquele jornal digital invocando efemérides curiosamente sempre investidos e revestidos com o seu quê de reaccionarismo e revisionismo.

Há algum tempo, mais concretamente nos centenários do regicídio, em 2008, e da implantação da República, em 2010, que voltou à luz do dia uma corrente revisionista praticamente evocante do discurso estado-novista, «a meio caminho entre a história e a política», anistórica, que legitima a instauração da ditadura e do Estado Novo pela «desordem», o «caos» e a «instabilidade» da I República, diabolizando a experiência liberal portuguesa e mitificando a indispensável «nova ordem» inspirada em tradicionalismos de l’Ancien Régime com o pano de fundo dos heroicos lusitanos aos «grandiosos» descobrimentos marítimos.

Ora, RR no seu «especial regicídio», «D. Carlos e o fim da monarquia em Portugal» (Observador, 01/02/2018), disserta sobre o acontecimento e conclui-se, à vol d'oiseau, que tal prosa tem como único objectivo desculpabilizar a figura e acção de D. Carlos durante o seu reinado. O autor não desarma: dispara sobre tudo e todos, em todos os sentidos, como qualquer cavaleiro andante faria em salvação da sua dama.

É curioso perceber como o autor insiste constantemente passar a ideia de que a monarquia constitucional, nos anos da sua débâcle, era um regime perfeitamente consistente e nada «arcaico» (expressão que usa uma série de vezes – vide parágrafos 4, 7, 12, etc.), quase que um floreado onde a rosa mais esbelta seria o seu Rei e cujo povão, a politiqueira e a intrigalhice seriam os males maiores e os principais responsáveis pelo regicídio.

É necessário desmontar esta visão que em certa parte é errática e esquece muitos pormenores, factos ou até fontes.

RR começa por dizer para esquecermos a tese de que o regime era arcaico e de que o Partido Republicano Português (PRP) tinha conseguido «uma imensa força popular» (cit. RR), qual ideia que nos impede de perceber por que razão D. Carlos foi assassinado e a monarquia caiu.

Ora, diga-se a RR que nada mais é errado. Antes pelo contrário, tal como em Portugal, no fim do século XIX, os sistemas liberais do ocidente europeu estavam a passar por uma crise provocada pela transformação do capitalismo concorrencial em capital financeiro, pelo imperialismo e suas guerras de redivisão e redefinição do mundo, pela segunda revolução industrial e por uma vaga de convulsões sociais que fizeram irromper a emergência de novas classes sociais e partidos políticos.

 (continua)

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