A mãe adora tirar-me fotografias. Diz que fico sempre bem e quer registar o meu crescimento.
Durante muito tempo guardou tudo no computador, até que considerou estar na altura de mandar imprimir as melhores imagens e construir um álbum para mim.
Um dia apareceu em casa com uma caixa cheia de memórias e pediu-me ajuda para as organizar. Sentou-se no chão da sala e puxou-me para o seu colo.
Eu estava radiante, mas a mãe parecia dividir o seu pensamento entre este projecto e todas aquelas tarefas que estavam a ser adiadas para estar ali, comigo.
Agarrei numa fotografia minha de quando era bebé e consegui captar toda a sua atenção. Já a conheço um bocadinho e compreendo-a cada vez melhor.
As fotos passavam das suas mãos para as minhas e eu devolvia-as, para que tentasse ordená-las no tempo. Os seus olhos encheram-se de água. A mãe aparece em poucas e tem medo que eu me esqueça que esteve comigo em todos aqueles momentos.
Disse-me que tínhamos que fazer uma pausa, com o pretexto de ter que aproveitar os últimos raios de sol para secar a roupa. Eu percebi. Estendeu cuidadosamente cada peça, por ordem de tamanho, o que lhe deu tempo para pensar no porquê de estar em tão poucas fotografias e ao mesmo tempo decidir o que iria fazer para o jantar.
Estava na altura de fazer alguma coisa. Peguei na primeira caneta que encontrei e dirigi-me à cozinha. Olhei para os lembretes que temos colados no frigorífico e, com a minha melhor letra, acrescentei à lista de compras: um segundo álbum!
Chamei-a, pedi para ler e abraçámo-nos. Já devia ter estado a picar cebola, porque tinha outra vez os olhos muito verdes e brilhantes.
- Mãe, amanhã serei eu a fotógrafa e vamos tirar muitas selfies!