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05 MAR 2020
Ponte dos Desencontros
Por Jornal Abarca

A Ponte João Joaquim Isidro dos Reis, vulgarmente conhecida como Ponte da Chamusca, e que une esta vila à Golegã, é um dos focos de maior discussão, há muitos anos, no que concerne a obras públicas no centro do país.

A necessidade de uma nova travessia parece inequívoca, sendo a actual uma construção com 111 anos, projectada para as necessidades de uma época em que ainda vivíamos em Monarquia. A realidade alterou-se substancialmente, mas quem tem de passar com frequência o rio Tejo nesta ponte, terá de se habituar ao facto de que as coisas não se irão alterar nos próximos tempos.
 
Consensos…
A 24 de Janeiro, o Bloco de Esquerda apresentou uma proposta para incluir no Orçamento de Estado a construção de uma nova travessia do rio Tejo, entre a Chamusca e a Golegã, que reacendeu a discussão.
 
O abarca procurou perceber junto dos quatro partidos que elegeram deputados por Santarém quais os fundamentos para este chumbo.
 
Fabíola Neto Cardoso, deputada do BE, não tem dúvidas de que “é necessária na zona uma nova travessia que responda não só às necessidades de quem diariamente ali cruza o rio Tejo, mas também como resposta ao intenso tráfego de pesados, nomeadamente com destino ao Ecoparque do Relvão”. Esse é, de facto, um dos maiores dramas para automobilistas e moradores da Chamusca e, até, Alpiarça e Almeirim. O deputado do PS, Hugo Costa, defende que “o país tem uma divida perante a região e o concelho da Chamusca por causa do EcoParque do Relvão”, não tendo qualquer dúvida de que “é muito importante uma nova travessia no Tejo, mas também garantir os acessos à mesma”.
 
Duarte Marques, deputado do PSD, afina pelo mesmo diapasão: “É uma questão de justiça para com aquela população que aceitou receber o lixo perigoso de todo o país”. Ainda assim, também no seguimento das palavras de Hugo Costa, o deputado natural de Mação frisa que “é essencial para a região que seja terminado o IC3 e que passe a existir uma alternativa para as centenas de camiões pesados de matérias perigosas de todo o país que diariamente atravessam aquelas localidades”.
 
Por seu turno, António Filipe, deputado da CDU, defende que as duas obras são inseparáveis uma da outra: “A ponte é indissociável da A13 mas não deve ser portajada. A construção da ponte faz parte da conclusão dessa via que assume também enorme importância”.
 
Duarte Marques não tem dúvidas de que fazer intervenções apenas na ponte seria “o disparate da década”. Para Hugo Costa “uma ponte sem acessibilidades pouco ou nada resolve”.
 
Os consensos sobre a necessidade de uma nova ponte que ligue a Chamusca à Golegã, para os deputados que representam as quatro forças partidárias eleitas no distrito nas últimas legistlativas, parecem suficientes para um entendimento. Duarte Marques resume essa necessidade de forma inequívoca: “É a obra mais justa e mais urgente em todo o distrito”. Mesmo assim, não há uma solução à vista para este caso.
 
…e falta deles!
A proposta apresentada pelo BE, “uma medida que previa o início das acções necessárias para assegurar a construção de uma nova travessia do rio Tejo”, explica Fabíola, foi rejeitada. Esta proposta, no seu entender, também seria fundamental porque funcionaria como o “catalisador necessário para concluir a A13”, explica. A proposta foi votada favoravelmente pela CDU e António Filipe aponta para o “aumento do investimento público” como “uma exigência nacional”.
 
Contudo, o voto contra do PS e a abstenção do PSD revelam discordâncias fracturantes em relação a esta proposta. Hugo Costa, deputado socialista, considera-a sem fundamento: “Os Orçamentos do Estado não têm obras avulso” logo a aprovação da proposta “não tinha efeitos” pois “não tinha cabimento orçamental”. O deputado socialista vai mais longe e acusa o BE de apresentar “uma proposta mal feita apenas por populismo”, e lembra que a conclusão da A13 está “incluída no Plano Nacional de Investimentos” por iniciativa do PS. Também Duarte Marques não poupa o BE nas palavras: “A proposta é tonta e serviu apenas o propósito de tentar deixar ficar mal os outros partidos”.
 
Ponte sem alicerces?
Duarte Marques lamenta que “os poderes autárquicos e a própria população não sejam mais activos nesta guerra”, rejeitando que toda a responsabilidade sobre a questão more entre as paredes da Assembleia da República. Fabíola Neto Cardoso realça ser “importante o envolvimento de todos na procura de uma solução”.
 
José Veiga Maltez, presidente da Câmara Municipal da Golegã, escusa-se a fazer promessas porque este é um “processo que compete à Administração Central” mas considera a conclusão da ponte, assim como da A13, uma prioridade “indispensável para a região e importante para o país”. Frisa, ainda, sentir-se “desiludido enquanto munícipe” com o que parece ser o adiamento eterno desta obra.
 
Por seu turno o edil da Chamusca, Paulo Queimado, considera que a nova ponte só fará sentido com a conclusão da A13: “É preciso perceber que, mesmo com uma nova ponte sobre o Tejo na zona da Chamusca/Golegã, todo o tráfego automóvel, sobretudo de pesados, continuaria a passar por dentro das nossas vilas e aldeias”. Por isso, não tem dúvidas de que a grande emergência é a conclusão da A13 que liga a Marateca a Coimbra mas está interrompida entre Almeirim e Vila Nova da Barquinha: “Teríamos uma acessibilidade direta do sul ao centro do país, com tudo o que isso trará de desenvolvimento e de melhoria de condições de vida para as populações”. Paulo Queimado lembra ainda que essa obra foi uma “contrapartida para que a Chamusca aceitasse ser um centro nacional de tratamento de resíduos industriais perigosos” e promete lutar para que seja incluída no Plano Nacional de Investimentos 2021-2030.
 
Com tanto desencontro, fica a questão: a ponte tem alicerces para avançar? Por agora, não temos resposta para dar.
 
 
 
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