A morte não era para ele um acontecimento perturbador, mas uma estranha criatura que o fascinava de uma forma desmedida, quase até um pouco perversa.

Em tempos, viveu numa velha aldeia do Alentejo, um homem que desde a sua juventude mostrava os mais inquietantes sinais de uma estranha perturbação. A morte não era para ele um acontecimento perturbador e algo de que se devia desviar o olhar, mas uma estranha criatura que o fascinava de uma forma desmedida, quase até um pouco perversa.

Os desvios do jovem começaram a dar nas vistas aos aldeãos ainda o jovem frequentava a escola primária. Morrendo alguém, era costume que a aldeia acompanhasse o falecido até ao lugar do seu último descanso. Mas não as crianças. Porém, nos cortejos incorporava-se sempre agora um petiz, trajava carregado de negro e chegava a faltar às aulas para se integrar nos funerais, de nada valendo as admoestações que lhe dessem, para o enxotar, dizendo-lhe que ali não era o lugar para uma criança. Podiam ter toda a razão, mas de nada valia. A fixação do petiz pelo mármore frio dos cemitérios, pelo negro espetral das cruzes de ferro e ferrugem espetadas junto às campas, pelas carpideiras profissionais chorando na hora de chegar a carreta e por todo aquele ambiente suspenso e pesado no cortejo era inexplicável. Tal como era absurdo que a morte de alguém, que a todos entristecia (ou pelo menos assim aparentavam), a ele dava uma excitação particular e sem alguma razão de ser, mesmo tratando-se de um familiar ou de um alguém mais próximo. A sua precoce necrofilia começou a tornar os aldeãos cada vez menos tolerantes com os seus comportamentos de gáudio perante a infelicidade dos outros. 

Poderá ler o resto do conto na edição em papel do Jornal Abarca, disponível nos postos de venda habituais.