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08 OCT 2020
ENTREVISTA - Mamadou Ba: "Estou disposto a morrer pela luta contra o racismo"
Por Jornal Abarca

Nasceu no Senegal há 46 anos mas metade da sua vida foi passada em Portugal. Antes de aterrar no nosso país, em 1997, já sabia falar português. Mamadou Ba, líder do SOS Racismo, é um dos rostos mais conhecidos da luta contra o racismo em Portugal.

Depois dos recentes acontecimentos, com as ameaças de 8 de Agosto, vive com medo?
Todos vivemos com medo. Mas o medo tem de ser uma arma para nos alimentar, para termos consciência de que se há alguém ou alguma coisa que nos leva a ter medo, então algo não está bem. Não posso enganar as pessoas e dizer que não tenho medo com as ameaças e as circunstâncias em que vivemos, porque é assustador as pessoas serem ameaçadas, ofendidas ou atacadas só pelo que são: negros, mulheres ou homossexuais. Mas o que mais me assusta é um dia ter medo de não poder fazer aquilo que acho que está certo. Tenho preocupações com a minha segurança e com a minha vida, não quero ser mártir porque os mártires não resolvem nada. Mas não quero que o medo ganhe!

A sociedade portuguesa é racista?
Todas as sociedades colonialistas são estruturalmente racistas. E digo isso as vezes que forem necessárias, mas é preciso fazer a distinção. Quando eu digo que Portugal é um país machista, não estou a dizer que todos os homens portugueses são machistas. Estou a dizer que há uma estrutura cultural que premeia o machismo. O feminicídio que existe no país é o espelho desse machismo estrutural. Este racismo que agora vemos nas redes sociais, nas caixas de comentários da comunicação social e até no discurso político é apenas a expressão do racismo estrutural que temos na sociedade portuguesa. Há um fantasma que atravessa a sociedade portuguesa que se chama colonialismo.

O que é que se sente quando se recebe uma carta com uma bala que dá um prazo de validade à nossa vida?
Sentimos raiva, revolta e indignação. Mas, por outro lado, fico com a convicção de que estou a tocar no sítio onde dói. Ceder às ameaças não é uma opção. Até tenho tendência para desvalorizar as ameaças porque já estou habituado. Não devo fazê-lo mas é uma forma de continuar a viver.

Após a actuação da PSP no Bairro da Jamaica, em Janeiro de 2019, usou num post a expressão “a bosta da bófia”. Quer explicar melhor essas palavras?
A jornalista Diana Andringa, que foi presidente do Sindicato dos Jornalistas, fez um post a detalhar lexicamente as minhas palavras, e fê-lo muito bem. O que aconteceu com o meu post está na sequência do que falámos há pouco. A imprensa cedeu à sede de sangue das redes sociais. Vamos contextualizar: fui visitar o Hortêncio Coxi que estava em condições horrorosas, e depois li um post de uma agente graduada a gozar com a situação. Depois de uma discussão que durou o dia todo, eu fiz o post em que qualifico a acção da polícia e não a instituição, como é óbvio! Não tenho muitos motivos para ter uma grande simpatia pela PSP, pelo historial que existe. Não sou isento de escrutínio, tenho de assumir o que digo, é assim que funciona em democracia, mas houve uma clara tentativa de atacar o Bloco de Esquerda através de mim.

Considera André Ventura genuinamente fascista ou foi onde ele encontrou espaço para ter voz? Isto porque muito do que ele escreveu no passado choca com o que defende agora.
Ele é um grande oportunista, sem dúvida. É um charlatão que não tem grandes convicções. Mas pelas ligações que tem não é só isso. Ele tem sede de poder. André Ventura é, de facto, um fascista. Tem um passado popular, cresceu numa família humilde, em condições modestas, teve influência da Igreja por isso deveria ter algo humanista nele. Mas politicamente, ideologicamente, é um fascista. E tem todas as características: é mentiroso compulsivo, manipulador e não hesitará em nada para alcançar os seus objectivos. Anuncia uma Quarta República, o que está a propor é um golpe de Estado. Este tipo não é um idiota e deve ser levado a sério.

Poderá ler o resto da entrevista na edição em papel do Jornal Abarca, disponível nos postos de venda habituais.

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