“A escola tornou-se burocrática, há um excesso de trabalho sobre os docentes, e a convivência entre o corpo docente esvaiu-se porque eles não têm tempo, nem disponibilidade física nem anímica”, afirma Irene Crispim professora durante quase três décadas para quem os problemas sociais foram sempre a sua primeira preocupação.

Irene da Fonseca Crispim, nascida em 1953 nas Barreiras do Tejo, Abrantes, não precisou de uma infância fácil e economicamente desafogada para ser feliz à sua maneira, que pouco mais precisava do que umas bonecas à sua frente, de quem era professora, e de uma mão cheia de amigas com quem convivia e desabafava. Nunca precisou de muito para viver e ser feliz. O pouco que os outros tinham sempre a preocuparam mais que o seu pouco, que compensava com a muita dedicação e afeto nas suas causas. (...)

Em 1961 a família partiu para Angola. Victor Crispim contraíra uma úlcera, estava debilitado, e decidiu partir. Primeiro ele, no paquete Quanza, e depois a restante família, na segunda viagem que o paquete Príncipe Perfeito fez, quase três semanas pelo oceano. “Foram muitas as emoções que Angola me deixou. Era estranho, o clima muito diferente, o calor por vezes infernal, muitos colonos brancos, uma sensação de um espaço aberto e uma enorme liberdade em esplanadas onde se bebia a cerveja Cuca e havia um convívio saudável”, recorda. (...)

Na CPCJ local, os casos sociais da cidade têm também uma enorme ponderação. “O Entroncamento é terra de muitos problemas, há muitas famílias desestruturadas. Uma CPCJ não é, como algumas pessoas pensam, para tirar as crianças às famílias. É o contrário”, esclarece a ex-docente, frisando que, na cidade, “os principais problemas são o absentismo escolar, a violência doméstica e os maus tratos, incluindo a negligência com os cuidados alimentares e de higiene das famílias com as crianças”. (...)

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